COM MEDO DE SER FELIZ

Com medo de ser feliz?

Psiu! Você, é você mesma. Como? Eu devo estar enganada, pois você não me conhece? Não, eu a conheço muito bem.

De madrugada ao voltar daquela festa, quando me olhastes profundamente,

assustada, com cara de nojo de si mesma, pensando que eu iria reprovar

cada ato que tinhas praticado, cada sentimento que tinhas sentido, cada

palavra que tinhas dito, e o reservatório de álcool que havia bebido. Não eu estava lá sob a luz fraca e pálida do banheiro, enquanto me olhavas chorando, com as lágrimas borrando os restos de maquiagem.

E também quando seu corpo se contorcia em delírios de prazer e remexia-se todo enroscado àquele corpo bronzeado, que cobria metade do seu, naquela cama de motel.

Eu estava lá observando cada ato seu, como se fosse uma anônima testemunha, e quando me encaravas fazias caras e bocas como seu fosse expressar qualquer opinião. Secretamente sabendo que sou neutro e não me intrometo em nada. Sou apenas silenciosa testemunha do que vejo, ouço, apreendo.

Não sou crítico, nem adulador, nem tenho nenhum poder para aprovar ou reprovar seus atos. A única coisa que posso te dizer é que tenho muita pena de você. Pois estou preso ao meu destino. Só posso refletir o que colocam ao meu alcance, enquanto você é livre para fazer o que bem quiser, inclusive ser feliz, sem se incomodar com o que os outros vão pensar. Viva realmente sem falsos pudores, cada detalhe, cada minuto de sua existência como se fosse o último. Com a consciência de que só você pode transformar em sua vida, o que não a está agradando.

Eu continuarei sempre ao seu dispor, como mero depositário das imagens que me apresentarem, sou apenas o espelho de sua existência.

Aradia Rhianon
Enviado por Aradia Rhianon em 26/04/2010
Código do texto: T2220479
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