As palavras comovem, os exemplos convencem
Na minha adolescência, conheci uma mulher singular.
Professora, formada pela Escola Americana de Ponte Nova, Bahia,
pianista, abastada de bens materiais os quais lhes dava pouca importância.
Era quase uma franciscana!
Todos os dias deixava sua casa confortável e fazia uma longa trajetória a pé
para levar alento aos carentes e necessitados da periferia de Campo formoso.
Em sua casa apareciam sempre pessoas para lhe pedir ajuda para ir
para S. Paulo catar café, ou uma consulta médica para alguém doente,
ou algum pequeno trabalho que lhes garantisse a sobrevivência!
A todos ela acolhia com simpatia.
No fogão a lenha, nunca faltava o café e o pão com manteiga, quentinho!
Sentava-se à mesa com os seus pobres e com eles partilhava o lanche.
Trazia depois uma cartilha com fotos coloridas e dizia:
vamos ler uma história, é a “mais importante” história da humanidade!
Ia então contando a história de Cristo do seu nascimento até a sua morte
e o motivo pelo qual havia morrido
Terminadas essas duas etapas ela dizia: "fale o que você deseja":
escutava com atenção o pedido do seu visitante e depois dizia:
"vamos ali orar" para que Deus nos mostre o caminho para solucionar
o seu problema. Ajoelhava-se com o pedinte e fazia a prece.
Partia então para "a ação"!
Pedia dinheiro a quem ia encontrando pelo caminho. Dizia:
"este filho de Deus" quer ir tentar a vida Em São Paulo, será que os Senhores
podiam dar uma contribuição”? E assim continuava.
Alguns comerciantes se escondiam ao vê-la, mas ela não se deixava intimidar.
Realizou o sonho de dezenas de pessoas mandando-as para S Paulo.
Dia após dia, era essa sua principal ocupação.
Elegeu-se vereadora sem nunca pedir votos!
Seu pensamento era o irmão necessitado.
O culto formal na Igreja e o piano não eram as coisas mais importantes
para aquela incansável mulher que transcendia às convenções!
Certo dia, perguntei-lhe o porquê do seu Interesse pelos pobres,
ela me citou este versículo bíblico:
"vinde benditos do meu Pai /possuir o gozo que está preparado para vós/ desde a
fundação do mundo / porque tive fome e me deste de comer/ tive sede e me deste
de beber/ estava nu e me vestiste/ na prisão e me foste ver/ era estrangeiro e
me hospedaste"!
Nasci e cresci na Igreja Presbiteriana, ouvi centenas de sermões dos mais
fluentes oradores sacros, mas o que ficou mesmo dentro da minha cabeça,
dentro do meu "ser" e de muitos adolescentes de minha geração, foi o exemplo
deixado por Dona Carmélia.
A ela, carinhosamente, quero dedicar essa singela
HOMENAGEM (Ainda que póstuma)!