Ao amigo que chora...
Não chora, amigo meu
decerto o mundo é um grito vago na imensidão do tempo
finda as vidas, caras
mata as flores raras
faz dos homens tão pobres e tão vis
torna as noites assombrosas
as madrugadas, danosas...
O mundo, querido amigo
é qual o mar bravo, turvo
rebenta em nós ferozmente
tragando risos e faces
Num instante, muda os rumos...
Tristemente nos leva tudo...
Mas, ainda, há palavras
dou-te as minhas, não por favor...
E peço-te que não chores
as almas que prezam-te sentem tua dor tão grande...
Sabeis que isto, agora, é um nada
e este nada passará tão velozmente
varrerá as tuas, as minhas lágrimas
e nos esquecerá, nos deixará tão distantes do que somos...
Mas há uma guerra que travam os bravos:
do amor constroem pontes
do afeto tecem as noites
da saudade eternizam o tempo...
Das palavras proferidas fazem nascer glórias benditas
nas trevas acendem luzes
diante do mar errante navegam com coragem e fé...
Porque são leais, são tão dignos
e choram pelas horas findadas do outro...do amigo
e suplicam baixinho preces de um eterno carinho
e olham nos olhos de Deus sem perceberem...
Não chora, amigo meu
não de tristezas malditas
mas chora por amor verdadeiro a alguém
mesmo quando este alguém, agora, pareça tão distante...
Chora, que Deus ouve o clamor dos amigos
dos aflitos sob os temporais...
Dos anjos benignos que abrem suas asas sobre o outro e gritam suas mais intensas dores...
Chora, então, que teu choro é de luz!