O AMOR QUE VEIO PELA DOR!
Numa praia do litoral sulista,
dois meninos se encontravam todos os finais de semana.
João se aproxima de Mateus e o conquista,
de seu rosto queimado, um sorriso aberto emana.
Eles se divertiam, se gostavam,
riam muito e se admiravam.
Os dois,com o tempo, se tornam amigos e trocam confidência.
referem-se às suas famílias,aos seus destinos,às novidades.
Falam de suas vidas, de suas tristezas
e João com paciência,
ouve mais do que fala, pois sua vida é só dificuldades.
Observa as certezas
do amigo calado,
esse amigo que é tão recente,
e que,às vezes, esconde o que sente!
Entre uma conversa e outra, João deixa o tabuleiro de cocada
e a bolsa tão desgastada.
Convida o amigo, de uma forma especial
e que está desempedido,
para mergulhar.
E, os dois saem desinibidos
a correr e a e se distrair com a água deliciosa do mar.
Lá estão os dois meninos,
parece que o mar é só deles e que a vida é uma brincadeira.
Ao retornar à areia,
João se apavora
e vê que suas coisas sumiram .
Ele chora.
Mateus pergunta quanto ele havia vendido,
vai ao carro e, na hora,
pega o dinheiro e dirige-se ao amigo,
que,embora precise,
sente o orgulho ferido.
Amigo, não estou lhe dando,
estou apenas lhe emprestando.
Ao chegar em casa,à sua mãe, não diga nada.
Com o tempo, você me paga.
O lindo sorriso voltou ao rosto do menino,
que enxugando as lágrimas,
sentiu-se bem e querido.
Foram muitos os encontros,
muita conversa, muita prosa,
João trabalhava o dia inteiro,
era tão pobre, tão pobre,
e Mateus era tão rico, mas de alma muito nobre.
Realidades diferentes,
os amigos sentiam-se tão bem
e sob os olhares de muita gente,
eles se divertiam como ninguém!
Depois de ano de convivência,
João conta para seu companheiro,
que havia juntado o dinheiro.
Mateus lhe pergunta se ele não vai
precisar e se sua família não ia precisar.
-Sempre falta, nada sobra,
mas antes que você vai embora,
eu quero minha dívida quitar.
-Mas não precisa ser agora,
eu espero, não há hora,
quero ver você feliz e de nada precisar.
-Posso continuar, continuar a te ajudar?
Falou temendo pela reação do amigo naquele momento.
-Não tem jeito,
minha vida é sempre assim,
duas lágrimas sentidas,
caíram dos olhos enfim.
-Não chore, posso o dinheiro lhe dar,
se você do seu orgulho abdicar.
Meu pai tem muitos bens, tem dinheiro
e não ajuda ninguém,
portanto posso ajudar você,
pare de chorer e de tremer!
-Seu pai não trabalha?
_Trabalhava, mas foi mandado embora
e novamente o pobre menino chora.
-Por quê? Você procurou saber?
-Ele disse lá em casa, que o dono da fábrica
que ele trabalhava,a ele agradeceu,
mas era só pra cobrir as férias ou ficar no lugar
de quem adoeceu.
Os empregados permanentes voltaram e
com o olhar bem desanimado,
João sente a brisa do mar, e de repente se pôs a
falar:-Deixa pra lá,não quero pensar
nos problemas que tenho que resolver.
-As horas mais felizes que consigo viver,
são as que passo aqui com você!
Nessas horas, esqueço-me de tudo,
dos poblemas, da fome, das dores.
Em casa ,fico mudo,tudo é tão
igual e aqui,com você, tudo parece irreal.
É um sonho tão especial!
O dois meninos se abraçam
e novamente se puseram a brincar,
a brincar com as ondas do mar!
O motorista de Mateus chama,
e João não reclama,
mostra-se sempre alegre
e num momento tão breve,
Mateus se volta e decide perguntar:
-Sabe o nome da firma onde seu pai trabalhou?
-Sim, sim, João falou.
Pensa por um segundo e confirma:
-Sim, já sei -e num olhar profundo sussurou com a voz embargada:
-A firma é famosa, é uma grande empreitada!
Mateus viu que o amigo de jeito simples
havia falado errado. Coitado!
-Não era empreitada,a forma de falar estava errada.
Era um EMPREITEIRA conhecida, mas qual seria o nome dessa
firma que à família de João tanto feria?
E ao voltar, já viu o amigo tão longe, correndo,
e bem no meio da rua, pegando o bonde,
que fazia parte do trajeto costumeiro.
-Semana que vem lhe pergunto,
o nome do dono dessa empresa,
que causou tanta surpresa ,
colocando na rua um trabalhador,
que aliviava no trabalho a sua dor.
Dor de não ter o que comer, do filho não poder estudar,
pois era preciso ir pra praia trabalhar.
Dor de ver a mulher, não ter o que colocar na colher,
dor de dormir sem cobertor, sentindo o maior frio.
Principalmente o frio sofredor,
de ver o filho ainda tão novo,
como acontece com a maioria do povo,
destinado a destruir os seus sonhos de esperança,
de uma criança ir à escola,
e em boa hora de aprender um ofício.
-Nossa, que vida mais difícil!
Semana transcorrida,
Mateus conta as horas decorridas,
para se encontrar com João.
Mas, o menino pobre não vem não:
não vem hoje, não vem mais não,
e Mateus não se sente bem ,
com a ausência do amigo,
do amigo tão querido!
Nunca teve uma amizade tão forte e tão leal.
E, agora, onde está a sorte,
que lhe faz desaparecer
o velho amigo,sem nada dele saber!
Resolve perguntar, então,
a um homem que ali passava todo dia,
e com a voz cheia,
cheinha de emoção,
Mateus temia o que viria mais tarde a saber:
o pai do menino veio a falecer.
-Sabe onde trabalhava?-perguntou
tão ansioso.-Sei- disse o desconhecido,
-nas empresas MATARAZO.
-Oh, não era possível,
o que acabava de ouvir.
E num soluço tão sensível
se pôs de repente a chorar.
Um soluço tão doído,
um chorar tão ressentido,
que o informante se assustou
e num momento perguntou:
-Por que chora desse jeito,parece até que perdeu alguém!
-Sim, eu perdi, perdi meu amigo querido
e estou assim tão sentido,
porque a causa de tudo,
foi o meu pai ,que sem saber,
despediu o falecido e agora,
o que me resta? Jamais meu amigo vou ver.
-A vida foi muito cruel,
me deu essa grande dor,
perdi meu amigo fiel.
Não poderei mais com ele conviver,
mais uma vez chorei,
pois foi tanto o sofrer,
o sofrer que lhe causei.
Adeus, João, meu amigo do coração!