O que a mente ama fica eterno.
O que a mente ama fica eterno.
Em um dia desses de céu com várias nuvens carregadas, escuras, anunciando uma tempestade, acordei nostálgico, amante, lembrando-me de pessoas que me fizeram bem, os arquivos da minha memória foram sendo abertos, e mostrando-me as pessoas que guardei com carinho eternamente, como disse a poetisa Adélia Prado “O que a mente amou fica eterno”. Fiquei surpreso por pessoas que a mente me mostrou, por anos que se passaram, e mais ainda, por outras que não me lembrava com tanta freqüência, aquelas talvez como disse Vinicius de Moraes, no poema: Amigos: ”Tenho amigos que não sabe o quanto são meus amigos. Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles.”.
Nessa nostalgia o arquivo da memória abriu e não fechou mostrando-me de maneira destacada um nome, uma pessoa, uma identidade, á qual conheci, convivi, amei, gravei, arquivei, eternizei. A lembrança me foi dolorida, de saber que não mais poderíamos brincar alegrar-nos e conversar... Ele partiu antes do momento de partir, pois seu corpo não estava cansado, partiu sem desejar partir, nesse episódio fica as lágrimas da revolta de não aceitar a partida antes do momento. Sabia que naquele dia as nuvens estavam cheias de água em forma de lágrimas, para derramar sem medidas, não imaginei que naquele mesmo dia também, eu derramaria lágrimas por perder meu amigo, em um acidente. Foi vítima de uma fatalidade, a porta do caminhão do seu pai abriu, em uma curva, ele caiu, não houve tempo para o pai desviar, Estava para sempre consumado aquela tragédia, aquele dia de nuvens escuras, negras...
Sabe, Lourival, aquelas tardes que jogávamos futebol, nadávamos no lago azul, às vezes tínhamos de sair correndo, pois não éramos sócios, mas como a maioria das crianças, gosta de brincar, de ter brinquedos, de nadar, de ter uma casa, de ter pai, ter mãe, nós só tínhamos vontade de ser gente, de ser criança... Íamos à matinê, assistir Tarzan, Hércules, Sansão, e outros heróis. Das muitas pitangas, jabuticabas, laranjas, goiabas, mangas que apanhávamos escondido na chácara do senhor Orestes, homem rico, mas não entendia a graça do dar, ele preferia que as frutas perdessem, mas não dava, o muro era muito alto e tinha cachorro de gente rica, são grandes e bravos, mas desejávamos as frutas e as melhores sempre ficavam nos lugares mais alto, parecido com o que disse Machado de Assis: "Mulheres são como maçãs em árvores.
As melhores estão no topo.” mais difícil, era aquelas que gostávamos, e Lourival era franzino, moreno, subia no muro com muita agilidade, Mas e as frutas como pegá-las? A cada dia nos reuníamos para discutir planos para apanhar as boas, sabíamos que o Senhor Orestes tinha uma espingarda de pressão, Sempre que ouvia barulho atirava, Nunca ensinaram á ele que ele estava apenas nessa terra de passagem, que nada era dele, apenas era mordomo das coisas, Era tido na cidade como homem carrasco, miserável, ganancioso, avarento, planejamos e fizemos uma engenhoca, umas desses projetos de meninos, que funciona, fizemos com uma vara, corda, um gancho, e uma lata, e não perdíamos uma fruta as melhores apanhávamos. Aquelas frutas tinham sabores diferentes, e, sabe aqui expresso um pouco de saudade, misturado com tristeza, muitas vezes aquelas frutas eram nossos almoços, nossos jantares...
E você amigo, deixou esse vazio existencial para sempre, Você que tinha um sorriso fácil de ver, estava para sempre resumido naquele corpo inerte, frio, vivia sempre rodeado de pessoas pela sua alegria, agora quem estaria com você naquela tumba fria, quando aquele caixão abaixasse... Gosto de um termo que o escritor Rubem Alves em seu livro Concerto para o Corpo e Alma, página 13 usa a expressão para Deus: “Eterno Retorno”.
Oro para que Deus traga de volta tudo àquilo que se perdeu no passado; pois, só isso é necessário... Que os momentos de saudades retornem.
Dr, J,F,Alvarez 8/2009
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