AO TRANSPOR A PONTE

AO TRANSPOR A PONTE

Jorge Linhaça

Caminhou serena e silenciosa pela ponte à sua frente.Uma fina chuva cai sobre aquele local e apenas ali.As gotas eram salgadas e salpicavam o pétreo piso que a levaria a seu destino. Lágrimas de saudade.

Enquanto caminhava pensava nos que ficaram para trás, pensava nos caminhos já trilhados, no que havia construído ao longo de sua jornada.Pensava na herança deixada e no destino que lhe dariam.

Por anos havia semeado flores ao longo do caminho e tivera o prazer de criar um belo jardim de diversidade e encanto ímpar.

Mas agora fora chamada para ir mais além...não sentia medo, adiara essa nova jornada enquanto lhe fora permitido assim agir.

Sabia no seu íntimo que a tarefa que a aguardava do outro lado era igualmente prazeirosa e se reuniria a antigos amigos em sua nova missão.

Não sentia tristeza, apenas uma suave saudade das boas coisas que vivera e , ao mesmo tempo que sentia uma leve aprensão sobre o que seria feito de seu jardim, no peito levava a certeza de que o havia deixado em boas mãos.Claro que sua falta seria sentida e flores sentiriam a diferença de serem cultivadas por outras mãos mas por certo que iriam continuar a embelezar e perfumar os muitos lugares aonde o jardim fizera-se conhecido.

Quem sabe não fossem até mais além?

A verdade é que, ao cruzar a ponte, não havia mais volta mas, haveria de continuar a acompanhar de longe e com alegria cada progresso alcançado.

Já podia agora vislumbrar os vultos de amigos e familiares queridos do outro lado da ponte.

Caminhou despreocupada e ansiosa por esse reencontro deitando um terno olhar para o passado e proferindo em seu coração uma benção para os que aqui ficaram com a missão de levar adiante o se sonho.

Transpôs, afinal, a ponte e desapareceu atrás de uma cortina de luz ao fim de mais um ato da peça de sua vida.

*****

Até breve amiga!

Encontraremos-te depois da ponte em nosso próprio e devido tempo, quando formos enfim chamados.

Teu jardim permanecerá encantado e a encantar a todos.