LIÇÃO DE VIDA

Em todo o tempo ama o amigo e para a hora da angústia nasce o irmão. (Provérbios 17:17)

LIÇÃO DE VIDA

Um dia, durante uma conversa entre advogados, fizeram-me uma pergunta:

- O que de mais importante você já fez em sua vida?

A resposta me veio à mente na hora, mas não foi a que respondi, pois as circunstâncias não eram apropriadas. No papel de advogado da indústria do espetáculo, sabia que os assistentes queriam escutar anedotas sobre meu trabalho com as celebridades.

Mas aqui vai a verdadeira resposta:

- O mais importante que já fiz na minha vida ocorreu em 08 de outubro de 1990.

Comecei o dia jogando golfe com um ex-colega e amigo meu que há muito não via. Entre uma jogada e outra, conversávamos a respeito do que acontecia na vida de cada um. Ele me contava que sua esposa e ele tinham acabado de ter um bebê. Enquanto jogávamos, chegou o pai do meu amigo e, consternado, lhe disse que seu bebê havia parado de respirar e tinha sido levado para o hospital com urgência. No mesmo instante, meu amigo subiu no carro de seu pai e se foi. Por um momento fiquei onde estava, sem pensar nem em me mover, mas logo tratei de pensar no que deveria fazer:

Seguir meu amigo ao hospital? Minha presença, disse a mim mesmo, não serviria de nada, pois a criança certamente estaria sob os cuidados de médicos e enfermeiras, e nada havia que eu pudesse fazer para mudar a situação.

Oferecer meu apoio moral? Talvez, mas tanto ele quanto sua esposa vinham de famílias numerosas e sem dúvida estariam rodeados rde amigos e familiares que lhes ofereceriam apoio e conforto necessários, acontecesse o que acontecesse. A única coisa que eu faria indo até lá, era atrapalhar.

Decidi que mais tarde iria ver o meu amigo. Quando dei a partida no meu carro, percebi que o meu amigo tinha deixado o seu carro aberto e com as chaves na ignição, estacionado junto às quadras de tênis.

Decidi, então, fechar o carro e ir até o hospital entregar-lhe as chaves.

Como imaginei, a sala de espera estava repleta de familiares que os consolavam. Entrei sem fazer ruído e fiquei junto à porta, pensando o que deveria fazer. Não demorou muito e surgiu um médico que se aproximou do casal e, em voz baixa, comunicou o falecimento do bebê. Durante os instantes que ficaram abraçados, pareceu-me uma eternidade, choravam, enquanto todos os demais ficaram ao redor, num silêncio de dor.

O médico lhes perguntou se desejariam ficar alguns instantes com a criança. Meus amigos levantaram-se e encaminharam-se resignadamente até a porta. Ao me ver ali, aquela mãe me abraçou e começou a chorar. Também meu amigo se refugiou em meus braços e me disse: "Muito obrigado por estar aqui! ".

Durante o resto da manhã fiquei no hospital, vendo meu amigo e sua esposa segurarem nos braços seu bebê, despedindo-se dele. Isso foi o mais importante que já fiz na minha vida!!

Aquela experiência me deixou três lições:

Primeira: O mais importante que fiz na vida, ocorreu quando não havia absolutamente nada, nada que eu pudesse fazer. Nada daquilo que aprendi na universidade, nem nos anos em que exercia a minha profissão, nem todo o racional que utilizei para analisar a situação e decidir o que deveria fazer, me serviu para aquelas circunstâncias: duas pessoas receberem uma desgraça, e nada eu poderia fazer para remediar. A única coisa que poderia fazer era esperar e acompanhá-los. Isto era o principal.

Segunda: Estou convencido de que o mais importante que já fiz na minha vida esteve a ponto de não ocorrer, devido às coisas que aprendi na universidade, aos conceitos do racional que aplicava na minha vida pessoal assim como faço na profissional. Ao aprender a pensar, quase me esqueci de sentir. Hoje, não tenho dúvida alguma de que devia ter subido naquele carro sem vacilar e acompanhar meu amigo ao hospital.

Terceira: Aprendi que a vida pode mudar em um instante. Intelectualmente todos nós sabemos disso, mas no fundo acreditamos que os infortúnios acontecem com os outros. Assim, fazemos nossos planos e imaginamos nosso futuro como algo tão real, como se não houvesse espaços para outras ocorrências.

Mas, ao acordarmos de manhã, esquecemos que perder o emprego, sofrer uma doença ou cruzar com um motorista embriagado e outras mil coisas, podem alterar este futuro em um piscar de olhos.

Para alguns, é necessário viver uma tragédia para recolocar as coisas em perspectiva. Desde aquele dia busquei um equilíbrio entre o trabalho e a minha vida.

Aprendi que nenhum emprego, por mais gratificante que seja, compensa perder umas férias, romper um casamento ou passar um dia festivo longe da família. E aprendi que o mais importante da vida não é ganhar dinheiro, ascender socialmente, nem receber honras. O mais importante da vida é ter tempo para cultivar um amor e uma amizade.

(autoria desconhecida)

Aninha Castro
Enviado por Aninha Castro em 06/06/2009
Código do texto: T1634588
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