ANJOS ANÔNIMOS

ANJOS ANÔNIMOS

Jorge Linhaça

Existem momentos raros, especiais, em que as mãos e braços se unem,

mesmo que não fisicamente, em prol de quem mais necessita.

Confesso que não tenho a menor idéia , e duvido que alguém tenha, de quantas pessoas estão envolvidas neste momento, nessa gigantesca corrente humana de apoio aos nossos irmãos catarinenses.

Desde os garotos do bairro pobre de Campo Grande que foram recolhendo doações pela vizinhança , puxando sua carrocinha para auxiliar aos desabrigados, até os atletas e artistas empenhados nesta campanha.

Uma multidão de anônimos deposita suas doações nos vários postos existentes por todo o país.

A internet faz a sua parte divulgando fatos e noticias, fazendo correntes de orações que unem pessoas das mais distintas crenças religiosas, conclamando as pessoas a fazerem a sua parte, adicionando seus elos importantes a este processo.

Pessoas doam seu tempo e habilidades para triar as doações, empresas doam transporte e mesmo seus funcionários para realizar esta função social.

Por algumas horas, dias, semanas, os seres humanos vestem as suas asas esquecidas de anjos, anjos muitas vezes sem rosto, sem nome, e procuram, cada qual à sua maneira, minorar o sofrimento de seus semelhantes.

São tantos anjos de todas as raças, de todos os credos, de todas as filiações ou predileções políticas, de tantas idades, de todos os sexos, de todas as opções de sexualidade, que voam como se todos tivessem um único e enorme par de asas a movê-los nesse intento.

Não importa se você não acredita em anjos, eles existem, estão espalhados por todos os estados deste nosso país, estão espalhados por todos os países do mundo, com suas asas esquecidas e escondidas até que chegue a hora de fazer a sua parte em qualquer ocasião.

São Marias, são Josés, são Toshiros, são Miokos, são Johns e são Marys, são Iuris e Natashas , são Pablos e Conchitas, Abraãos e Saras, são Mohameds e Yasmins...são todos os nomes enfim.

Não temos mais cor de pele, assumimos todos o tom dourado dos anjos.

Existem muitas frentes de luta, muitas formas de ajudar, algumas mais imediatas outras que serão necessárias mais adiante.

Claro que se precisa discutir a política ambientalista, a ganância empresarial, o crescimento exacerbado das cidades.

Claro que se precisa discutir a ocupação das áreas de risco, o desmatamento, as obras sempre prometidas e inconclusas...mas isso é para depois, para outro tipo de anjos mais especializados e conhecedores do assunto.

Agora é hora de dar as mãos e reconstruir as vidas despedaçadas pela tragédia. Neste exato momento não é a hora de apontar culpados, é hora de sepultar os mortos, socorrer os vivos e fechar os portos da intolerância.

Depois sim, é preciso levantar as causas da tragédia e cobrar responsabilidades.

Mas estou aqui apenas para agradecer:

Agradecer a todos os anjos disfarçados de seres humanos que levam um pouco de paz e esperança para quem não restou muito mais do que isso.

Agradecer a você, meu amigo desconhecido, que escolheu não cruzar os braços e está fazendo a sua parte.

A todos vocês, anjos de asas escondidas, o meu carinho e admiração por ser parte desse exército de anjos-gente que faz a diferença.