SAL DO AGRADECIMENTO

(para Yasmin, webmaster do sítio de escritores que leva o seu nome)

Amada, me fizeste chorar frente ao computador! Tudo tão bonito, e meus tão solitários versos imantados de arte e sedas no milagre da virtualidade. Talvez eles mereçam esta voltinha pelo Oriente.

Tudo neste mundo se move e eles precisam andar, cumprir suas sinas buscando aleluias.

Ainda bem que disseram ao guri pobre que só a leitura propiciava grandes viagens!

Estou aqui, bobo, vendo som e imagem enchendo as retinas de beleza, rememorando o Arroio da Infância, em cujas limosas margens ovos cor-de-rosa e girinos restaram perdidos no leito de areia suja.

Aliás, as rãs sempre me impressionavam. Parecia que tinham asas, alguma trampa com o Demo as impulsionava. Catapultavam-se ao menor sinal de aproximação de alguém. No entanto, ficavam a encantar insetos.

A desforra vinha das cobras, que as enfeitiçavam a ponto de babarem o medo.

— Como se imaginar um sapo voador não saber fugir a tempo?

Ali começava o aprendizado dos segredos. Era preciso parar pra observar.

Aprendi muito também com as lagostas de água doce. Espadanavam cola e corpo atirando-se para trás na corrente do aquário fétido. Era a sua autodefesa.

Eu ainda não conhecera o medo nem a luta pra buscar o alimento de sobrevivência. Costumava desenhar na areia toldada um imenso coração só pra retratar o amor vivo que me parecia eterno.

Mas foi o bastante pra saber que aprendera a rarefeita mania de embrulhar a felicidade nas folhas de agrião que iriam à mesa dos catadores e outros excluídos. Memórias de sol, suor e chuvas.

É bom ser feliz por osmose. Garatujar-se a lágrima, o sal do agradecimento.

- do livro inédito DE QUANDO O CORAÇÃO ABRE A CORDEONA, 1978 / 2006.