Na calada da noite: respire.

 

São José (SC), 02/03/2023 - 05h21(*).

 

Certa vez uma amiga brincou dizendo que, minha alma era tão velha, que quando Deus fez o mundo, ela já pairava sobre as águas. Estava sendo espirituosa. Hoje sei, minha amiga: era a Ruah, na verdade, que pairava. Pairava e vibrava. Por nós. Em nós. Para nós. Conosco.

 

Sou alguém muito ansioso, vocês sabem disso. Meu médico sabe. Um anjo, aquele homem. De ruim, não tem nem os ciscos do sapato. Foi ele que me deu um santo remédio, primeiro há 10 anos, este ano novamente. Venho tomando-o religiosamente e, na calada desta noite, às quatro da madrugada, no escuro do meu quarto, acordei em paz, percebi-me respirando seu nome e tudo fez mais sentido: absolutamente tudo diante de mim, tudo o que minha visão conseguia tocar, mesmo no escuro, era o princípio de uma nova chance, então o coração ansioso deu lugar a um coração sereno, porque tudo diante de meus olhos abertos – incluindo eu mesmo – fazia um sentido único, tinha um propósito único, um norte único.

 

Lembrei, quietinho, de minha mãe, dormindo no quarto ao lado, e que útero é uma palavra feminina desde de que o mundo é mundo. Quem tem ouvidos para ler, que leia.

 

Quando recordares que não se pronuncia um nome de Deus, pelo devido respeito, tens razão, mas lembra-te de que Deus tem muitas moradas e muitos nomes, e que não precisas pronunciá-Lo, basta respirá-Lo para que a Ruah se revele e se tonifique a pele. Ao invés de pronunciarmos com a exterioridade de lábios, por que não O dizermos internamente (a plenos pulmões)?

 

O tolo não ora, não vigia, não ama, não cuida, não agradece, não perdoa.

 

O ansioso não respira. Foi uma outra amiga que me disse e eu assino embaixo: o ansioso não respira. Quer falar mais que escutar e não respira, tudo é para ontem, mas o ontem só cabe aos mortos, a vida requer recomeço, o daqui pra frente e o agora. E para respirar, é preciso que confiemos que tudo vai passar, que tudo vai melhorar, que uma fase é uma parte, não o todo, caso contrário, ainda que falemos a língua dos anjos, sem amor, sem (bom) humor e sem confiar, não respiraremos.

 

(*) Mensagem dedicada a todas as pessoas que sofrem de ansiedade, à colega revisora Thali e parte (in memoriam) de sua família, à amiga, escritora e professora Salma Ferraz, ao escritor e professor Márcio Markendorff e à minha família e amigos mais caros. Texto inspirado em parte em:  https://www.centroloyola.org.br/revista/outras-palavras/espiritualidade/592-ruah-santo-o-sopro-que-nos-une.

Tony Roberson de Mello Rodrigues
Enviado por Tony Roberson de Mello Rodrigues em 02/03/2023
Reeditado em 02/03/2023
Código do texto: T7730755
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