Quando a dor é vencida...

Passei por diversos momentos difíceis na vida, mas em nenhum deles eu desisti de lutar, até o dia que o médico me disse, que ficaria paralítica. Naquele dia, eu perdi tudo, chão, meu eixo, minhas forças. Não sei dizer como saí daquele consultório, porque eu não sentia nem o chão embaixo dos meus pés, não que eu estivesse andando de fato, eu já estava parando de andar, mal conseguia dar um passo. Mas o diagnóstico foi severo e retirou toda e qualquer esperança que eu pudesse ter. Ele simplesmente disse, no seu caso, não tem mais o que se pode fazer.

O que fazemos quando toda a nossa esperança é arranca brutalmente de nós?

Eu não lutei, eu me entreguei. Vi as pessoas ao meu redor desesperadas querendo que eu reagisse. Mas continuei na inércia. Por um, dois, vários meses e mesmo contra toda probabilidade, eu voltei a caminhar,(aliás, nunca fui para uma cadeira de rodas), comecei a fazer tudo o que o médico me disse, que seria impossível. Eu parecia não reagir, pois naquele dia, naquele consultório eu perdi mais do que o meu chão, perdi minha autoestima, perdi tudo, eu me perdi. E, agora eu me sentia impotente e inútil. Esses sentimentos me engoliam, eu ajuda as pessoas, dizendo que tinham que se amar, fazerem o melhor para elas, mas eu não conseguia fazer mais o mesmo por mim. Porque eu tinha limitações e não conseguia lidar com elas. Eu estava andando? Estava, mas não podia fazer mais nada, se me esforçava, fica de cama por dias.

E, neste momento tão difícil, teve pessoas que me disseram, que eu estava passando por isso, por minha culpa, outra disse, que era coisa da minha cabeça, que era frescura.

Por isso, gosto tanto de escrever sobre julgamentos e também de como só você conhece a sua dor. Somente quem passa é que sabe, como dói, onde dói e o que você faz para se reerguer.

Eu precisava de um chocalhão e ninguém dava. Eu precisava acordar daquele estado de hibernação e descobrir que a vida era muito mais, do que aquele mundinho de comiseração, que eu havia criado para mim.

Chegou o dia, uma pessoa que eu não esperava, me chocalhou de tal forma, que abalou tudo, foi tão profundo que foi nas entranhas e parecia que enxergava tudo, o que eu não queria que ninguém visse. Me senti nua, exposta e me perguntava, como está enxergando assim? Ninguém vê, achava que estava escondendo bem...

O casulo rompeu e já não dava mais para ficar naquele mundinho, tendo pena de mim mesma. Fui obrigada a mudar, eu quis mudar, quis me reencontrar, reencontrar a mulher forte e guerreira que sempre fui, reencontrar o meu eu.

Hoje olhando para trás, vejo o quanto eu aprendi nesse período, claro que quando estava passando por tudo, não conseguia enxergar nada disso, mas hoje eu vejo.

Aprendi que não sou perfeita, que em algum momento eu posso desmoronar, e tudo bem, desde que eu não permanecer indefinidamente no chão. Que existem coisas que podem abalar minha estrutura, mas eu não estou sozinha, ainda que me tranque em mim mesma, deixando todos do lado de fora. Foi eu que tranquei a porta, terei que abri-la e os deixar entrar novamente.

Que jamais eu posso esquecer quem sou, se por breves momentos eu esquecer, preciso me trazer a lembrança momentos que passei, em que lutei, e saber que ainda que eu não consiga enxergar, existe uma saída.

Aprendi que em momentos de muita dor, ficamos cegos, enxergando apenas o que queremos. Durante todo esse tempo, eu não valorizei o que estava conquistando, fiquei focada apenas na parte ruim...

Tenho limitações, mas estou em pé, eu ando, não posso fazer tudo, mas posso me adaptar. Eu não enxrgava o que todos viam, o milagre acontecendo, indo contra tudo o que o médico disse, contra todo o laudo que eu tinha nas mãos. Consegui diversas vitórias, não comemorei nenhuma, simplesmente por que meu foco estava na dor.

O principal, Deus disse e cumpriu. Falou que eu não iria para uma cadeira de rodas, e eu não fui. E na época, não enxergava isso, nem para agradecer.

Mas, hoje sou imensamente grata, faço coisas que me disseram que eu não faria, e sei que tudo é pela força que recebo de Deus, que sozinha jamais eu conseguiria.

Agradeço por cada lição, pela pessoa que me tornei depois disso. Agradeço pela pessoa que Ele usou como instrumento para finalmente me fazer acordar e trazer luz de volta a meus olhos.

Finalmente, quero falar com você, que leu todo esse relato até aqui...

Se você se encontra hoje, como eu me encontrava, totalmente sem forças, entregue. Saiba que é só por um momento, olhe lá atrás a pessoa que você era, a força que tinha, como você não se deixava abalar. Pode estar achando que tudo está acabado, mas te digo, que não está, é apenas uma fase e vai passar. Peça para Deus, renovar suas forças hoje, te dar ânimo...

Eu não vou te julgar, com toda força que eu sempre tive, eu também fraquejei, não aguentei o baque, mas hoje estou aqui, em pé, renovada, restaurada, com autoestima, por que voltei a me amar, olhar no espelho e me enxergar realmente, me sentir bonita, as limitações hoje, não me param, me fazem avançar.

Espero que minhas palavras possam ter te ajudado de alguma forma.

Que Deus possa penetrar nos seus ossos, no profundo do seu eu, passando o bálsamo no seu coração e curar sua alma aflita e doente, que essa cura alcance seu corpo físico e mente.

Amém.

_ Rê Ferry (11/12/22)