AGRADECIMENTO AO REDIVIVO FERNANDO PESSOA

Olá, meu querido Jairo Klein, está deitado ao mundo através da virtualidade o meu humilde texto (abaixo) a ti dedicado. É uma fórmula mínima e singela de agradecer o espetáculo "Eu, Pessoa e outros Eus" trazido a público aqui em Torres/RS, na sexta-feira, dia 05/07/2019, no Restaurante Girardi, transformado em ambiente cultural muito acolhedor, mercê dos 10 graus da invernia sulina e litorânea. O teu incontestável talento pessoal, de notável intimidade pessoana, desabou sobre nós - os teus admiradores - uma torrente de questionamentos muito válidos e únicos. Ganhamos em densidade e amor ao Outro, e, curiosamente, a partir de um poeta que se debruça sobre a Alteridade e os mistérios da psiquê humana, assentando-se egoicamente sobre a pessoalidade de Fernando-Pessoa-ele-mesmo-o-outro e seus possessos inteiros e, algures, outros semi-heterônimos capazes de copiar a vida e os seus trejeitos. Todos somos muito gratos pela inteireza com que te apresentas, e, consequentemente, nos presenteias com a matéria da vida recriada. Pessoalmente, agradeço as referências elogiosas feitas à Casa do Poeta Rio-Grandense, a vetusta CAPORI, de Porto Alegre, que foi e é por onde aprendemos, desde a década de 80 do séc. XX, a tentar a descoberta dos mistérios do amar e suas nuanças em cantigas d' amigo e saraus de porta com jeito de sonhar e de viver. Ficamos a esperar o teu retorno e seria tão bom que fosse em novembro próximo, de 14 a 16, quando promoveremos o 3º FAROL LITERÁRIO DE TORRES, integrando o povo torrense com agentes de Literatura e Artes provindos de vários recantos do Brasil. Abraços muito afetuosos a ti e a San Lopez, o teu competente agente de produção cultural. Abraços do poetinha JM.

DO ESTADO DE POESIA

Joaquim Moncks

– para o ator Jairo Klein, o eu e as circunstâncias redivivas, em Fernando Pessoa.

Quando estou alheio de mim (e do outro), a egrégora da Poesia sacraliza-se no silêncio: apenas chama ou raio. A palavra solerte, astuciosa de zelos, aloja-se por debaixo da carapaça, o rabo redondo do caramujo e suas antenas acusam a novidade de se saber pronto para a comunicação entre a criatura em sua própria natureza e o transcendental. Então, em êxtase, arrasta a minha carcaça a música que promana do violino do mistério. E despeja-se forte a vertente insensata. É ela a ambulância entre o inútil que sou e o derradeiro desejo de nadas. Somente a lerdeza da metáfora e o sentimento do mundo, ambos ao alcance do olfato, me salvam. Súbito, a palavra extravasa as guturais cordas e rompe os tímpanos do eu encaramujado. Desde então carrego sem dor a minha humilde casa de silêncios. No pátio dela, o caos morde a palavra até o osso.

– Do livro inédito O PAVIO DA PALAVRA, 2015/19.

https://www.recantodasletras.com.br/mensagensdeagradecimento/6690563