DESPEDIDA

Queridos colegas:

Procurarei não ser prolixa para que os sentimentos não abram as comportas dos meus olhos, tão bem tarameladas para aqui estar

Cheguei!

Avalio o caminho, revejo os pés e no calendário do tempo, confiro os 70 anos de vida feliz e bem vivida, dos quais 51 anos ininterruptos de vida pública de trabalho.

O espelho ainda me fala de sorriso, otimismo, alegria e alguma beleza.

Isso, porque tudo que fiz foi sob o comando do amor, da qualificação, da satisfação do fazer e do respeito ético.

E eis que chego neste final de estrada, com o sentimento de missão cumprida!

Mochila às costas, diante de vcs, para um abraço, um agradecimento, um até logo ou um até breve.

Chegou a hora de ir. Não estranhem se acaso eu chorar.

Egressa de um concurso para Analista Judiciário do TJDFT, aqui estou há 21 anos.

Foi um tempo de paz, de crescimento, de trabalho para que a prestação jurisdicional chegasse em tempo célere ao jurisdicionado, em que eu me senti feliz, contente, contribuindo com a Justiça do Trabalho do meu Estado.

Durante todos esses anos integrei-me bem aos grupos de trabalho, pois jamais me subjugo às subserviências em busca de protecionismo sob o álibi da cadeira de rodas que ocupo há 34 anos.

Ela não me posterga, pelo contrário, enobrece-me!

Convida-me ao desafio.

E eu gosto disso.

O nosso Tribunal potencializa os recursos e tecnologias assistivas visando à plena acessibilidade das pessoas com deficiência.

Isso se chama respeito, inclusão.

Nunca me senti diferente, discriminada.

Acredito que não há discriminação que resista à competência.

Não é necessário paternalismo nem diferenciação, apenas respeito às leis e à célebre frase de Rui Barbosa: “... tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais na medida em que eles se desigualam”.

Mas agora chegou a hora de ir.

Muitas saudades levarei.

Lembrar-me-ei de todos os companheiros de trabalho, com quem aqui convivi.

Essa linda história de trabalho nesse Tribunal será um marco de saudade nas celas de minhas recordações no acalanto dos dias.

E a história ainda não acabou. Conotativamente fui formiga a vida inteira, agora vou ser cigarra: cantar a vida, bordar horizontes, irmarnar-me às asas dos pássaros e rever prados, campinas e montes, solfejando a lira dos poemas meus.

Nunca me esquecerei do tempo que aqui servi como formiga e fui tão, tão feliz.

Esta Corte de Justiça continuará minha também.

As Camaradas-formigas terão um lugarzinho cativo no meu coração.

E agora, adeus!

Genaura Tormin
Enviado por Genaura Tormin em 11/11/2015
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