RÁDIO BANDEIRANTES- SETENTA E CINCO ANOS
BANDEIRANTES, SETENTA E CINCO ANOS
Caros José Paulo, Salomão, Joelmir e Rafael.
Se a BAND vai fazer setenta, eu tenho 68 e há mais de 60 anos estou praticamente casado com ela. Nem me lembro quando foi que comecei a ouvir a BAND, mas uma das mais antigas memórias que tenho é o meu pai ligando o nosso velho rádio de válvulas ás 5 da manhã para ouvir a Beira da Tuia com o Tonico e o Tinoco. Meu pai morreu em 1956, mas essa tradição que ele nos legou nós não abandonamos nunca mais. Cresci ouvindo a BAND. Passei pela Serra da Mantiqueira do Comendador Biguá, pela Roda de Violeiros do Capitão Furtado, pelo Brasil Caboclo do Capitão Barduino; depois já adolescente ouvi o Enzo de Almeida Passos, o Fernando Solera com os “Mil Discos é o Limite”, o Pickup do Pica Pau do Walter Silva, e já mocinho andei com a Patrulha Bandeirantes pelas ruas de São Paulo; lembro-me dos seus arrepiantes contos de terror nas segundas-feiras, narrados pela voz do Leonardo de Castro. Lembro-me ainda da primeira transmissão de uma partida de futebol da seleção brasileira que eu ouvi: 4 a 2 para os húngaros na Copa de 1954. O Edson Leite narrando, fulo da vida com o juiz, Mrs. Ellis, que operou o Brasil naquele jogo. E depois a Copa de 1958, o Edson Leite narrando o primeiro gol do Brasil contra a Áustria, feito pelo Mazzola; esse eu nunca mais esqueci. “Arremessa De Sordi para Orlando; Orlando para Joel...”E depois o primeiro gol do Pelé contra o Pais de Gales e por fim a gloriosa partida final contra a Suécia. “ O Maracanã acontece na Suécia: O Brasil, castigado em 50 e 54, é finalmente Campeão Mundial de Futebol...” Nessa altura nós já estávamos nos jogando na Fonte Luminosa aqui em Mogi...
Ah! Edson Leite e Pedro Luís. Eram fantásticos. E depois o Fiori Gigliotti, o Flávio Aráujo (dava um azar danado para o Corinthians quando narrava jogo do Timão), o Braga Júnior, o Darcy Reis, o Mauro Pinheiro e seu charuto, o Barbosa Filho...Lembro-me do José Paulo de Andrade quando começou. Se não me engano foi como jornalista esportivo. Estou certo? Recordo-me também do Salomão substituindo o saudoso Vicente Leporace no “Trabuco”, toda vez que ele ia preso por causa dos comentários que fazia. Era tão freqüente... E depois vinha o Omar Cardoso com seus horóscopos. “Bom dia, mas bom dia mesmo...”
Quem começou primeiro aí na BAND? O Salomão ou o Muibo Cúry? E nos anos sessenta e setenta minhas tardes eram embaladas pelos programas do Hélio Ribeiro; depois vinha o Ferreira Martins. Lembro-me que o Zé Paulo (perdoe-me a intimidade), ficava fulo da vida com o Ferreira Martins quando ele abria o programa dele dizendo “é tempo das músicas de hoje”. O Zé Paulo (que entrava antes) dizia: “ E até agora nós só tocamos música de ontem?” Lembro-me que o Zé Paulo também fazia um programa aos domingos, recuperando antigas partidas de futebol dos anos quarenta e cinqüenta, e na época da ditadura, quando ele fazia programa musical ficava danado da vida com os jargões da ditadura tipo 'Brasil, ameo-o ou deixe-o". Ele não tocava o “ Eu te amo meu Brasil” do Don e Ravel...
Ah! As músicas de ontem. Isso era à noite, com o programa Moraes Sarmento. Acho que ouvi esse programa uns vinte anos ou mais. Era tradição. Mas a BAND também tinha os seus “chatos.” Celso Teixeira e Barros de Alencar, por exemplo. E o Alfredo Borba era insuportável com aquela mania de dizer que era rico e que só ele entendia de música. Ele o Pelé disputavam o troféu do mais “arrogante”. Hoje tem o “chatão” Milton Neves. Mas eu não deixo de ouvi-lo apesar do seu “santicismo”. Como não deixava de ouvir os outros “chatos” citados. Eles acabavam sendo divertidos.
E o Fiori Gigliotti com o seu “Cantinho de Saudade”. “Ficará para sempre incrustado na ternura e na sinceridade do nosso Cantinho de Saudade...” Era lindo aquilo. Acostumei também a acordar cedo nos domingos só para ouvir o Antonio Carvalho com o seu Arquivo Musical. Ainda faço isso hoje em dia, mas sinto falta dele com as suas tiradas filosóficas.
Em suma, ainda tenho esse costume hoje. Acordo invariavelmente ás seis horas da manhã e ligo o rádio. Ouço o “Pulo do Gato”. Depois a Primeira Hora, O Bandeirantes Gente...e vai por aí afora. São muitas as memórias que tenho da BAND e seus programas. Daria um livro inteiro se eu me metesse a recuperar a maior parte delas. Só quis fazer este resumo para prestar minhas homenagens a esta que tem sido a minha companheira por todos estes anos. Já me casei duas vezes e duas mulheres que dormiram comigo nestes últimos quarenta anos nunca reclamaram da BAND sempre estar no nosso quarto pela manhã, quando acordamos. Afinal de contas ela tem a primazia. Já faz mais de sessenta anos que acordamos juntos.
Parabéns para a BAND e para vocês que fazem o rádio se tornar parte tão importante das nossas vidas. Espero estar por aqui para comemorar com vocês o centenário da BAND.
Um abraço: João Anatalino.
BANDEIRANTES, SETENTA E CINCO ANOS
Caros José Paulo, Salomão, Joelmir e Rafael.
Se a BAND vai fazer setenta, eu tenho 68 e há mais de 60 anos estou praticamente casado com ela. Nem me lembro quando foi que comecei a ouvir a BAND, mas uma das mais antigas memórias que tenho é o meu pai ligando o nosso velho rádio de válvulas ás 5 da manhã para ouvir a Beira da Tuia com o Tonico e o Tinoco. Meu pai morreu em 1956, mas essa tradição que ele nos legou nós não abandonamos nunca mais. Cresci ouvindo a BAND. Passei pela Serra da Mantiqueira do Comendador Biguá, pela Roda de Violeiros do Capitão Furtado, pelo Brasil Caboclo do Capitão Barduino; depois já adolescente ouvi o Enzo de Almeida Passos, o Fernando Solera com os “Mil Discos é o Limite”, o Pickup do Pica Pau do Walter Silva, e já mocinho andei com a Patrulha Bandeirantes pelas ruas de São Paulo; lembro-me dos seus arrepiantes contos de terror nas segundas-feiras, narrados pela voz do Leonardo de Castro. Lembro-me ainda da primeira transmissão de uma partida de futebol da seleção brasileira que eu ouvi: 4 a 2 para os húngaros na Copa de 1954. O Edson Leite narrando, fulo da vida com o juiz, Mrs. Ellis, que operou o Brasil naquele jogo. E depois a Copa de 1958, o Edson Leite narrando o primeiro gol do Brasil contra a Áustria, feito pelo Mazzola; esse eu nunca mais esqueci. “Arremessa De Sordi para Orlando; Orlando para Joel...”E depois o primeiro gol do Pelé contra o Pais de Gales e por fim a gloriosa partida final contra a Suécia. “ O Maracanã acontece na Suécia: O Brasil, castigado em 50 e 54, é finalmente Campeão Mundial de Futebol...” Nessa altura nós já estávamos nos jogando na Fonte Luminosa aqui em Mogi...
Ah! Edson Leite e Pedro Luís. Eram fantásticos. E depois o Fiori Gigliotti, o Flávio Aráujo (dava um azar danado para o Corinthians quando narrava jogo do Timão), o Braga Júnior, o Darcy Reis, o Mauro Pinheiro e seu charuto, o Barbosa Filho...Lembro-me do José Paulo de Andrade quando começou. Se não me engano foi como jornalista esportivo. Estou certo? Recordo-me também do Salomão substituindo o saudoso Vicente Leporace no “Trabuco”, toda vez que ele ia preso por causa dos comentários que fazia. Era tão freqüente... E depois vinha o Omar Cardoso com seus horóscopos. “Bom dia, mas bom dia mesmo...”
Quem começou primeiro aí na BAND? O Salomão ou o Muibo Cúry? E nos anos sessenta e setenta minhas tardes eram embaladas pelos programas do Hélio Ribeiro; depois vinha o Ferreira Martins. Lembro-me que o Zé Paulo (perdoe-me a intimidade), ficava fulo da vida com o Ferreira Martins quando ele abria o programa dele dizendo “é tempo das músicas de hoje”. O Zé Paulo (que entrava antes) dizia: “ E até agora nós só tocamos música de ontem?” Lembro-me que o Zé Paulo também fazia um programa aos domingos, recuperando antigas partidas de futebol dos anos quarenta e cinqüenta, e na época da ditadura, quando ele fazia programa musical ficava danado da vida com os jargões da ditadura tipo 'Brasil, ameo-o ou deixe-o". Ele não tocava o “ Eu te amo meu Brasil” do Don e Ravel...
Ah! As músicas de ontem. Isso era à noite, com o programa Moraes Sarmento. Acho que ouvi esse programa uns vinte anos ou mais. Era tradição. Mas a BAND também tinha os seus “chatos.” Celso Teixeira e Barros de Alencar, por exemplo. E o Alfredo Borba era insuportável com aquela mania de dizer que era rico e que só ele entendia de música. Ele o Pelé disputavam o troféu do mais “arrogante”. Hoje tem o “chatão” Milton Neves. Mas eu não deixo de ouvi-lo apesar do seu “santicismo”. Como não deixava de ouvir os outros “chatos” citados. Eles acabavam sendo divertidos.
E o Fiori Gigliotti com o seu “Cantinho de Saudade”. “Ficará para sempre incrustado na ternura e na sinceridade do nosso Cantinho de Saudade...” Era lindo aquilo. Acostumei também a acordar cedo nos domingos só para ouvir o Antonio Carvalho com o seu Arquivo Musical. Ainda faço isso hoje em dia, mas sinto falta dele com as suas tiradas filosóficas.
Em suma, ainda tenho esse costume hoje. Acordo invariavelmente ás seis horas da manhã e ligo o rádio. Ouço o “Pulo do Gato”. Depois a Primeira Hora, O Bandeirantes Gente...e vai por aí afora. São muitas as memórias que tenho da BAND e seus programas. Daria um livro inteiro se eu me metesse a recuperar a maior parte delas. Só quis fazer este resumo para prestar minhas homenagens a esta que tem sido a minha companheira por todos estes anos. Já me casei duas vezes e duas mulheres que dormiram comigo nestes últimos quarenta anos nunca reclamaram da BAND sempre estar no nosso quarto pela manhã, quando acordamos. Afinal de contas ela tem a primazia. Já faz mais de sessenta anos que acordamos juntos.
Parabéns para a BAND e para vocês que fazem o rádio se tornar parte tão importante das nossas vidas. Espero estar por aqui para comemorar com vocês o centenário da BAND.
Um abraço: João Anatalino.