Graças dou, Senhor...
Bem cedo, acordavam todos. Vovô saía pelas seis da manhã para trabalhar. E , com ele, tomávamos café: pão feito em casa, ou deixado pelo padeiro
(vinha de carroça coberta puxada por um cavalo imenso). Era pão sovado, doce ou frances pelas janelas de seus fregueses.E a manteiga vinha da nata batida retirada do leite fervido. E havia käschmier feita de leite talhado que pingava-pingava de saquinhos de pano para dentro de uma jarra ( adorava beber esse soro com açúcar). E o Eierschmier que Oma ou Vovó faziam numa frigideira preta, com bastante cebolinha verde picada. Tinha, também, mel, café de cevada e leite do leiteiro, que o entregava de porta em porta. Vovô , antes de colocar qualquer pedacinho na boca, agradecia ao Senhor pela mesa farta e saudável.
Graças dou por aquela mesa simples e pelo amor daqueles a seu redor!
Vovô Vino, meu bisavô, trabalhara numa selaria, lá em São Chico. Depois do café, molhava a horta de feijão, tomate, milho, alface, cenoura, repolho e muitos temperos. O cheiro da terra, regada com mangueira de borracha remendada com ataduras de pano, misturava-se aos perfumes dos tomateiros, pés de salsa, cebolinha e manjerona. Vô Vino dizia que era o cheiro da vida crescendo feliz.
Graças dou por aquela horta regada de vida e pelo amor daqueles a seu redor!
Minha avó- mãe ocupava-se o dia inteirinho. Arrumava tudo, limpava a casa, lavava roupa no tanque. As cordas do varal recebiam lençois, fronhas, toalhas, panos de prato, guardanapos, lenços—isso mesmo, porque naqueles dias lencinhos descartáveis nem sonho eram—blusa, calças e tanta outra coisa. Em dias de vento, havia um baile no varal e aromas de anil e sabão de coco voavam por tudo. Chegavam até às janelas do sótão...
Graças dou pela casa arrumadinha e pelas músicas do varal e pelo amor de todos a seu redor!
Oma, minha bisavó, ajudava na horta e nos canteiros de margaridas, cravinas e ervilhas-de-cheiro. Seu aniversário era bem na época em que as ervilhas floresciam. Preparava a sala para a comemoração:a melhor toalha de mesa e um vaso antigo com cravinas e ervilhas-de-cheiro. Aí, fechava as venezianas para evitar moscas e calor. E pela casa toda, seu aniversário se espalhava...
Graças dou por aqueles aniversários tão macios e descomplicados e pelo amor de todos ao seu redor!
Graças dou pela infância naquela casa abençoada!
Graças dou por Vovó, Oma, Vovô, Vô Vino e Inda, sem os quais a vida teria sido bem menos apetecida!
Graças dou pelo Hoje e por minha família todinha!
Graças dou por minha Vida e por todos ao meu redor!
Ilram
Imagem: Google
Bem cedo, acordavam todos. Vovô saía pelas seis da manhã para trabalhar. E , com ele, tomávamos café: pão feito em casa, ou deixado pelo padeiro
(vinha de carroça coberta puxada por um cavalo imenso). Era pão sovado, doce ou frances pelas janelas de seus fregueses.E a manteiga vinha da nata batida retirada do leite fervido. E havia käschmier feita de leite talhado que pingava-pingava de saquinhos de pano para dentro de uma jarra ( adorava beber esse soro com açúcar). E o Eierschmier que Oma ou Vovó faziam numa frigideira preta, com bastante cebolinha verde picada. Tinha, também, mel, café de cevada e leite do leiteiro, que o entregava de porta em porta. Vovô , antes de colocar qualquer pedacinho na boca, agradecia ao Senhor pela mesa farta e saudável.
Graças dou por aquela mesa simples e pelo amor daqueles a seu redor!
Vovô Vino, meu bisavô, trabalhara numa selaria, lá em São Chico. Depois do café, molhava a horta de feijão, tomate, milho, alface, cenoura, repolho e muitos temperos. O cheiro da terra, regada com mangueira de borracha remendada com ataduras de pano, misturava-se aos perfumes dos tomateiros, pés de salsa, cebolinha e manjerona. Vô Vino dizia que era o cheiro da vida crescendo feliz.
Graças dou por aquela horta regada de vida e pelo amor daqueles a seu redor!
Minha avó- mãe ocupava-se o dia inteirinho. Arrumava tudo, limpava a casa, lavava roupa no tanque. As cordas do varal recebiam lençois, fronhas, toalhas, panos de prato, guardanapos, lenços—isso mesmo, porque naqueles dias lencinhos descartáveis nem sonho eram—blusa, calças e tanta outra coisa. Em dias de vento, havia um baile no varal e aromas de anil e sabão de coco voavam por tudo. Chegavam até às janelas do sótão...
Graças dou pela casa arrumadinha e pelas músicas do varal e pelo amor de todos a seu redor!
Oma, minha bisavó, ajudava na horta e nos canteiros de margaridas, cravinas e ervilhas-de-cheiro. Seu aniversário era bem na época em que as ervilhas floresciam. Preparava a sala para a comemoração:a melhor toalha de mesa e um vaso antigo com cravinas e ervilhas-de-cheiro. Aí, fechava as venezianas para evitar moscas e calor. E pela casa toda, seu aniversário se espalhava...
Graças dou por aqueles aniversários tão macios e descomplicados e pelo amor de todos ao seu redor!
Graças dou pela infância naquela casa abençoada!
Graças dou por Vovó, Oma, Vovô, Vô Vino e Inda, sem os quais a vida teria sido bem menos apetecida!
Graças dou pelo Hoje e por minha família todinha!
Graças dou por minha Vida e por todos ao meu redor!
Ilram
Imagem: Google