CAMINHOS DO SERTÃO - POR AIRAM RIBEIRO
Dia desses fui contemplada com um "mimo" muito especial: um exemplar do livro de cordéis - CAMINHOS DO SERTÃO - do meu amigo baiano, Airam Ribeiro.
O livro reúne quase 60 poemas, que conduzem o leitor pela intimidade que o poeta revela nos cordéis.
Nas palavras do próprio autor, "é um livro que fala de amor; também um pouco criticador".
Para Maurício Novais que assina o prefácio, CAMINHO DO SERTÃO revela um misto de saudade e crítica social, retratada por heróis e heroínas, de almas fragmentadas pela desolação da seca.
Para mim que li e reli cada página contida, descobri nesse livro o homem que o dia-a-dia desconhece, mas que a vida necessita para ser mais bela. É uma síntese do poeta, o seu alter ego e a sua supra realidade.
Muito obrigado pelo carinho, amigo Airam.
Sua conquista é nosso orgulho.
Eliana Berto.
Mira Ira.
TE PERCURANO NA REVUADA - Pag 93/94 - CAMINHOS DO SERTÃO
Dedicado a Mira Ira (Eliana Berto) de Juiz de Fora-MG.
O sór cumeça a despontá
Intão eu voo do me nim
Pózo na gaia do jatobá
E tomo jeito de paçarin
E ali naquele momento
As fruta é meu alimenro
Eu sou um sabiá sozin.
Depois pózo na amoreira
Aí é qui mi bate a sôdade
Pois paçei a vida intera
In busca da filicidade
Mas quá! Eu sempri vivi sozin!
Sô apenas um paçarin
Cum poquin di vaidade.
Num queru nesses versu
A mim querê lamuriá
Conquistá u universu?
Minhas asa num ia guentá
Eu já tenho meu espaço
Pra vuá sem imbaraço
Num queru muita coisa abraçá.
Mai sei qui tá mi fartandu
Por aqui u'a cumpanhera
As veiz ficu alembrano
Quandéla tava na portêra
Das bicada qui nóis dava
Nossas asa si abraçava
Mai num durô a vida intêra.
Num sei prumódi di quê
Ela num mai pareceu
Ela era meu bem quere
Eu era o bem querê seu
Foi otro paçarin marvado
Qui móra lá du otro ladu
Qui vêi robá o que era meu.
É triste hoji meu canto
Cum ea eu sonho todo dia
Tô aqui nesse recanto
Em busca das alegria
Ela aqui tem estado
Mai num dexa ninhum recado
Tô viveno di fantasia.
Inté a laranjera secô
Aquea dondi nóis ficava
Suas fôia si marelô
Qui caiu quando ventava
Inté quee véio nim
Disfiapô pur tá sozin
Ondi nói si incontrava.
Pruquê ela num mai vortô
O qui foi qui assucedeu?
Será qui nu'a gaiola trancô
Pruque num vortô pra eu
Será se num vorta mais
A sabiá das Minas Gerais?
Um dia já manheceu.
Óio todas as revuada
Qui vem das banda de lá
Todo dia na arvorada
Num veju ea cum os otro no ar
Já fui inté nu seu jardim
Mai ela num veio pra mim
Cuma é triste o meu pena!