Às pedras em meu caminho...

Eu agradeço à todas as pedras que estavam e estão presentes ao longo de meu caminho.

A algumas que me fizeram tropeçar e, muitas vezes, me ferir profundamente.

Outras que apenas estavam lá esperando que eu passasse por elas, almejando a queda e não contavam que houvesse, mais perspicazes que elas, desvios para o caminho correto.

Muitas das quais não valem sequer serem mencionadas, mas que também agradeço: àquelas pequeninas e inferiores pedrinhas que, às vezes, entram em nossos sapatos e provocam um pequeno corte. Mas são ponderáveis, são apenas “pedrinhas”.

Ah! Agradeço às pedras gigantes, de caráter duvidoso, que muitas vezes, num árduo e vão esforço, tentavam se passar por flores. Mas eram medíocres e ignorantes o suficiente para acreditarem em seus próprios disfarces.

Agradeço a todas...

Às pedras invejosas que desejam ter asas como os pássaros e por isso se sentem, prazerosamente, bem utilizadas nos estilingues, alvejando e destruindo.

Às pedras maldosas que entram em nossas vidas, sorrateiramente, nas solas de nossos sapatos, para causar incômodo e tomarem nosso precioso tempo tentando removê-las.

Às pedras preciosas e pontiagudas que pensam ter valor porque, aparentemente, brilham mais que as outras; no entanto, não têm valor senão adornar seres tão enfadonhos quanto elas. São apenas objetos de consolo para fúteis. Quando esbarram umas nas outras e lascam-se um milímetro podem cortar e ferir profundamente quem as carregou longo tempo.

Às pedras formadas de torrões de barro, que se consideram humildes e bondosas por enfatizarem que nenhum mal podem provocar à alguém, mas que, desesperadamente, se tornam vorazes e nas tempestades se fazem enxurradas que levam tudo, levam vidas, levam sonhos e levam até mesmo as outras pedras.

Agradeço a estas também, que todos os dias desejam, desesperadamente, pela chuva, para transformarem-se. Mal sabem que a mais triste das tempestades vem de seus próprios olhos, pelas lágrimas sentidas, por desejarem ser tão gloriosas e percebidas, mas terem a certeza que são e sempre serão apenas torrões de barro.

Anna Beatriz Figueiredo
Enviado por Anna Beatriz Figueiredo em 27/10/2009
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