A Regra do Ajudar

 

            Venho vos propor uma regra, meus amigos. Não há nada de novo em minha sugestão. Deve ser, inclusive, tão antiga quanto a poeira do planeta. Mas é uma regra bem pouco utilizada, embora, através de múltiplos exemplos, já a conheçamos de larga.

            Quero falar da Regra do Ajudar.

            Essa regra simples, se colocada como prioridade em nosso viver, pode trazer as mais doces consolações.

            Quer ter um par de asas e voar entre os homens?

            Vai ser difícil fazê-lo sem o cumprimento integral da regra.

            Parece que ela vem a exigir muito esforço, mas é uma das nossas ilusões. Temos apenas que aprender a abrir mão de nós mesmos, do nosso orgulho, das prioridades que colocamos quando nosso umbigo grita: eu em primeiro lugar.

            Perdemos muito tempo e energia cultivando nossa própria personalidade. Ao matar essa e focarmos nossa existência nas necessidades dos que nos cercam, um novo modo de viver, de ser e de pensar desabrocha.

            Sei que somos muito pequenos. Vejo esses corredores imensos de veículos e, em seu interior, nossos pequenos anões lutam uns com os outros. A regra de ajudar inverteria o processo econômico e social do mundo. Vamos ajudar o planeta! Poderia ser uma nova ordem, e teríamos toda uma tecnologia ecológica e casas, e veículos e produtos e o mundo seria salvo dos anões vorazes.

            Não vou tão longe, a princípio. Coloquemos a Regra do Ajudar em casa e perguntemos: tenho, sinceramente, colaborado para que os que me cercam sejam felizes?

            Sinto uma respiração suspensa no ar.

            Geralmente, ao contrário, somos, em maioria, pequenas crianças implorando por atenção o tempo todo.

            O universo é uma história continuamente escrita por um Autor que nunca se cansa. A sua mente ardilosa criou, como nos bons roteiros, uma notável situação. O que todo ser humano quer? A felicidade. Isso! Ansiamos, lutamos e, batalhamos dia-a-dia para construir uma felicidade que se assemelha ao pote dourado no fim do arco-íris.

            O Escritor fica ali, rindo dos caminhos estranhos que os pequenos anões vai construindo em suas vidas agitadas. Formigas em caixas de vidro têm mais sorte. No entanto, de tempos em tempos, um dos anões se destaca da multidão. Movido por uma força íntima, que é apenas uma das inúmeras que povoam o espaço, decide aplicar integralmente a regra do ajudar e algo começa a acontecer.

            De início vem o descrédito, a desconfiança e o obstáculo que os pequenos anões colocam no caminho dos que buscam um par de asas. Escarnecem e dizem que aquele quer apenas se autopromover. Os anões adoram cortar as asas dos outros. Preferem viver entre iguais e não suportam a idéia de que alguém lhes supere em altura. Afinal isso é compreensível, saber que alguém conseguiu trilhar o verdadeiro caminho mostra aos anões o quanto estão errados e toda uma vida se perde. E a perda, embora muitas vezes represente oportunidade de crescimento, nos dói no fundo da alma.

            Os anões são teimosos e não mudam. Depois de algum tempo muitos deles passam a admirar os que adquiriram asas. Tentam segui-los, mas as tentativas são fracas.

            O caminho para os anões é seguir a Regra do Ajudar. Deixar de lado nossa personalidade nos pouparia grande desgaste de energia, criaríamos um fluxo eterno de boas vibrações que nos traria, em retribuição, novas e boas vibrações. Quem navega pela vida seguindo essa regra, torna-se leve. Tira de si mesmo o foco, esquece seu nome, ignora a data do aniversário e se torna um bom filho(a), pai ou mãe, companheiro(a), amigo(a) e um servidor da sociedade.

            Se quiser mesmo seguir a regra do ajudar, comece se perguntando: o que posso fazer pela felicidade dos que me cercam hoje? Não pergunte o que a vida tem para lhe oferecer, sempre se pergunte o que você tem para oferecer à vida. Comece a deixar para trás o seu anão e comece a deixar crescer esse belo par de asas que anseia por voar. Enquanto não fizer isso não terá arco-íris, nem pote de ouro, apenas um anão zangado dentro de uma lata, parado no trânsito e respirando fumaça...