QUERIDO FILHO
Hoje você parte para uma nova vida, um pouquinho mais longe de mim. Que mais posso desejar-lhe senão toda a felicidade do mundo!? Você é vida que Deus confiou-me nesta vida para alegrar a minha vida. Quero repetir-lhe que o amo muito. E esse amor remonta ao meu aguçado instinto materno, quando ainda criança embalava ao colo as minhas bonecas. Depois veio a floração da feminilidade e com ela o desejo de amar um homem. Veio o sonho com um príncipe num cavalo branco, porte altaneiro e muitas juras de amor, tão bem descrito em minhas poesias de menina-moça em que o jardim era florido, enfeitado de borboletas e repleto de crianças.
E o sonho virou realidade! Num ninho de morangos e bombons, viera o plantio e depois os rebentos lindos e saudáveis, frutos de um grande amor. E quando o ventre se abaulava, demonstrando que um serzinho novo estava a caminho, eu me sentia a rainha de mim mesma. O corpo, o coração, o entendimento não comportavam a grandeza do meu amor. Eu precisava compartilhar, contar as histórias da vida. Eu precisava solfejar docemente as cantigas de ninar, falar dos pássaros e das flores ao meu neném agasalhado no aconchego do meu ventre, sob a guarda do coração enamorado.
A Seara era fértil, e entre as borboletas do jardim foram surgindo os anjinhos: uns loiros, outros morenos, risonhos, travessos, felizes! Individualidades à parte. Presentes especiais. E como eu os amava! Sempre pedi ao Senhor que fossem perfeitos, sadios, inteligentes. A beleza viria da alma. Com certeza, ela enfeitaria o corpo. O Senhor me ouviu e satisfez o meu pedido. Temos os melhores filhos do mundo! De gorjeta, Ele os fez lindos!
Você, Flavinho, era um Querubim! Sorriso farto, dentinhos tenros, cabelos loiros, loiríssimos, como se fossem de ouro! Eu costumava dizer-lhe que os queria para fazer anéis.
Certo dia, eu na lida da casa preparava o almoço, enquanto você, sentadinho no batente da porta, olhava-me com os seus olhos grandes e parecia pensativo. De repente, dirigiu-me a palavra:
— Eu vou embora desta casa!
— Para aonde, filho?
— Para o mundo! — Você me respondera. E contava, apenas, dois aninhos de idade.
Como aprendi com você o significado e o exercício do amor!
E quando o destino achou por bem que eu não poderia mais marcar passadas no chão, mas caminhar por meio desta família que tivemos a felicidade de construir, a palavra AMOR revestiu-se de significado muito maior. Engajados, os meus pequenos anjos, dirigidos e orientados pelo anjo-pai, enfrentaram com destreza o trabalho na Seara. Um enfermeiro em cada ação, um amigo em cada sorriso, um aliado em cada dificuldade, e sempre um filho em cada afeto. E isso continuou e continua por todos esses anos sem passos físicos, embora os imaginários se agigantem no silêncio dos momentos para retribuir tanta dedicação, tanto amor!
E agora, eu até havia-me esquecido de que você crescera. É um pássaro voante, com asas de albatroz, pronto para conquistar o seu espaço, fincar o seu marco, aninhar a sua prole e continuar a construir a sua vida de mãos dadas com a amada, com quem hoje se une, alcançando o objetivo maior de duas pessoas que se amam. E a nossa família ganha mais uma filha!
Cumpre-se, portanto, a sua profecia. Finalmente você parte para o mundo! Vai descobrir-se, dividir-se, doar-se. Vai ser marido, companheiro, pai e amigo. Que o seja em excelência, com galhardia, pois na vida não se deve ser apenas bom, mas tentar ser o melhor.
— Que o seu mundo, meu filho, seja sempre tão perto do meu, que nunca necessitemos de uma ponte para uni-los, nem eu de uma escada para alcançar você.
Parabéns, meus filhos!
Sua mãe,
Genaura Tormin