O homem que cortou as minhas árvores

O homem que cortou as minhas árvores

maria da graça almeida

O homem que cortou as minhas árvores

não se ocupou do esforço da semente,

da extensão da raiz, da magnitude dos galhos,

da expressão das folhas, do propósito do fruto.

O homem que cortou as minhas árvores

não cuidou da semeadura.

Para o aprendizado ou o treino do plantio

é necessário curvar e quedar-se rente ao chão.

Nem todos estão dispostos a tal submissão.

A construção requer cuidado e responsabilidade.

A destruição é simples, basta uma palavra...

ou uma assinatura, um olhar, um gesto, um empurrão.

O homem que cortou as minhas árvores não sabe

dos sacrifícios do crescimento, das penas do amadurecimento,

das perdas do envelhecimento, das dores do sepultamento.

O homem que cortou as minhas árvores

desconhece do tempo, os prejuízos, os benefícios

e, ingênuo ou desavisado,

na chegada ou na partida,

julga que jamais provará das urgências da vida.

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Não só digo do homem que praticou a ação,

refiro-me também àquele que se dispôs

a colocar-lhe às mãos o instrumento da devastação.

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maria da graça almeida
Enviado por maria da graça almeida em 29/03/2005
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