O homem que cortou as minhas árvores
O homem que cortou as minhas árvores
maria da graça almeida
O homem que cortou as minhas árvores
não se ocupou do esforço da semente,
da extensão da raiz, da magnitude dos galhos,
da expressão das folhas, do propósito do fruto.
O homem que cortou as minhas árvores
não cuidou da semeadura.
Para o aprendizado ou o treino do plantio
é necessário curvar e quedar-se rente ao chão.
Nem todos estão dispostos a tal submissão.
A construção requer cuidado e responsabilidade.
A destruição é simples, basta uma palavra...
ou uma assinatura, um olhar, um gesto, um empurrão.
O homem que cortou as minhas árvores não sabe
dos sacrifícios do crescimento, das penas do amadurecimento,
das perdas do envelhecimento, das dores do sepultamento.
O homem que cortou as minhas árvores
desconhece do tempo, os prejuízos, os benefícios
e, ingênuo ou desavisado,
na chegada ou na partida,
julga que jamais provará das urgências da vida.
-------------------------------------------------
Não só digo do homem que praticou a ação,
refiro-me também àquele que se dispôs
a colocar-lhe às mãos o instrumento da devastação.
-------------------------------------------------