Arquivo Morto
Dizer Adeus implica em muito mais do que apenas SAUDADE, por várias vezes, me vi obrigada a dizer essas cinco letrinhas, e sei, nada mais foi como antes. É como se cada Adeus, finalizasse uma fase da minha vida, e hoje, consigo realmente ver isso com a clareza necessária, não mais com aquele aperto no coração, agora a dor é em outro lugar, eu finalmente descobri que não amamos as pessoas com o coração, e sim com a memória, com aqueles detalhes que só nossa cabeça consegue guardar, com o passar do tempo, esses fragmentos de amor, amizade, raiva, alegria e tristeza, vão entrando em caixas e ficam lá, até os nossos 60 e tantos anos, quando sentamos numa tarde de chuva na varanda de uma casa, maior do que pensamos um dia ter, ao lado ou não, daquele(a), que nunca, nem nos mais remotos sonhos imaginamos como sendo o amor das nossas vidas, acho que vai ser nesse exato momento, quando a primeira caixa for, com muito esforço, tirada do arquivo, é bem aí que vai doer. Não consigo dizer agora, se suporto a idéia de que muitos dos que conheci, não terão sequer a oportunidade de resgatar essas memórias, não sei dizer se eu conseguirei, se terei tempo para isso, queria que a vida não fosse tão breve. Quando criança, o tempo era inimigo feroz, daqueles que nunca dão trela, hoje ele corre ao meu lado, e particularmente, já não me importa o que ele trará. Das coisas que vivi quero guardar apenas estas...a voz da minha mãe cantando pela casa, o cheiro da chuva quando molha a terra, a tarde em que não fiz nada com meus melhores amigos e o choro, de todas as vezes que já sofri por amor, isso é tudo que vale a pena guardar.