NOME DE HOMEM EM MULHER
Nadir Silveira Dias
Perdi a conta de quantas e tantas quantas foram as vezes em que já tive trocado o meu sexo. Na enunciação. Felizmente. Ainda que de todo desagradável. Ao ser chamado ao telefone. Ao receber uma correspondência. E isso já aconteceu inclusive com os órgãos de classe a que pertenço.
Não é incomum ser chamado de dona Nadir, doutora Nadir. Ou mesmo ao apresentar um cartão de loja, na própria loja (cujo cadastro está todo lá) ser perguntado se tenho a carteira de identidade. Claro, na ínsita (errônea e equivocada) suposição de que o cartão contém nome feminino, a funcionária precisa saber se este barbudo (agora não) tem a identidade com o mesmo nome do cartão.
Ou seja, o desconhecimento sobre o idioma e inúmeras de suas palavras causam incômodos desse gênero, diariamente, ao longo da vida.
Não se cuida, sejamos absolutamente esclarecidos, daqueles nomes próprios cuja etimologia ou origem ainda é desconhecida. Ou daqueles nomes próprios cuja aplicação serve para ambos os gêneros. Ou daqueles que são formados com os nomes dos pais ou avós, formando, por justaposição ou concatenação intercalada dos fonemas, nomes próprios cuja etimologia ou o próprio gênero são, em princípio, dúbios ou imperceptíveis para um não-filólogo, um leigo, como somos todos, imensa maioria.
Bem identifiquei que o equívoco é antigo. Letras de músicas existem com o nome Nadir, constantes em saite de letras de músicas com nomes de mulher. Letra de música que nunca conheci, de bem antes de eu ter nascido. E já faz algum tempinho. Assim, portanto, bem antes da emissora global difundir o equívoco com o nome posto em belíssima modelo e atriz em uma de suas novelas tão apreciadas pelo provo brasileiro.
E nessa estrita análise, é triste, muito triste, constatar que é bem mais fácil manter o nosso posicionamento do que corrigir o que está ou esteve errado até termos nós a consciência da questão, do assunto em pauta.
Não posso deixar de referir a exceção. Elas sempre existem. Para mim também, pois na vida encontrei alguém que sabia que Nadir era substantivo masculino, que não se chamava Nadir e que sabia também o seu significado, a sua acepção de substantivo comum. Que bom!
A propósito da sutileza (ou não) das palavras, se for convidado para comer silveira, não estranhe. Não se cuida de qualquer referência ao nome deste signatário ou de explícito ou implícito canibalismo. É nutrição mesmo!
Aliás, o prenome do autor, tanto na sua acepção de substantivo comum (nadir) quanto na de substantivo próprio (Nadir Xá da Pérsia, 1688–1747, Mahommad Nadir Xá do Afeganistão, 1883-1933, cameleiro árabe ou brasileiríssimo capitão de indústria, Nadir Dias Figueiredo, aquele de todo o dia no prato do seu almoço, no seu café, no seu copo d’água, e até no seu chope) guarda em sua etimologia a mesma significação. É substantivo masculino de origem árabe que significa o oposto, o contrário. Ou o ponto diretamente oposto ao zênite. E tal pode ser confirmado pela simples consulta a um dos dois autores mais lidos por mim, Aurélio Buarque de Holanda Ferreira.
De igual forma, ao não menos lido, Antônio Houaiss, ora de saudosa memória, e vivíssimo por sua ciclópica obra.
Silveira, a seu turno, segundo o mesmo prestigiado filólogo, é um prato feito com carne picada, ou camarão, peixe, etc., misturados com ovos mexidos. Com arroz, então!!! Aproveite!
Escritor e Advogado – nadirsdias@yahoo.com.br