Ser Ateu, Às Vezes, Dói

Ser ateu não é só não acreditar. É, às vezes, sentir falta de algo que nunca se teve. É olhar pra quem tem fé e, mesmo sem querer aquela crença, desejar a paz que ela parece trazer. Porque quando o chão some e tudo escurece, quem acredita fecha os olhos e ora. Eu, não. Eu só encaro o escuro.

Já me peguei, sim, com vontade de acreditar. De ter um nome pra chamar quando tudo dá errado, de ter a quem pedir, mesmo sem resposta. Porque quando todas as portas se fecham, quando a dor chega sem aviso e sem anestesia, não ter a quem gritar é um tipo de silêncio que machuca.

Ser ateu é viver com as próprias forças. É racionalizar a dor, tentar entender o que às vezes só se sente. É segurar a onda sozinho. E tem dias que dá, tem dias que não. Tem dias que invejo quem dobra o joelho e sente que foi ouvido. Mesmo que não tenha sido. Porque a fé consola, mesmo quando não resolve.

Não ter fé não me faz mais forte. Só me faz lidar com a vida de outro jeito. Mais cru, mais direto. Mas às vezes, confesso… queria ter onde deitar a cabeça e acreditar que tudo vai passar, só porque alguém lá em cima está cuidando.

Talvez ser ateu, no fundo, seja isso: seguir mesmo sem promessa. Mas seria mentira dizer que nunca desejei, só por um instante, acreditar em algo que me abraçasse por dentro.

Stoff Vieira
Enviado por Stoff Vieira em 26/04/2025
Código do texto: T8318240
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