Ser Ateu, Às Vezes, Dói
Ser ateu não é só não acreditar. É, às vezes, sentir falta de algo que nunca se teve. É olhar pra quem tem fé e, mesmo sem querer aquela crença, desejar a paz que ela parece trazer. Porque quando o chão some e tudo escurece, quem acredita fecha os olhos e ora. Eu, não. Eu só encaro o escuro.
Já me peguei, sim, com vontade de acreditar. De ter um nome pra chamar quando tudo dá errado, de ter a quem pedir, mesmo sem resposta. Porque quando todas as portas se fecham, quando a dor chega sem aviso e sem anestesia, não ter a quem gritar é um tipo de silêncio que machuca.
Ser ateu é viver com as próprias forças. É racionalizar a dor, tentar entender o que às vezes só se sente. É segurar a onda sozinho. E tem dias que dá, tem dias que não. Tem dias que invejo quem dobra o joelho e sente que foi ouvido. Mesmo que não tenha sido. Porque a fé consola, mesmo quando não resolve.
Não ter fé não me faz mais forte. Só me faz lidar com a vida de outro jeito. Mais cru, mais direto. Mas às vezes, confesso… queria ter onde deitar a cabeça e acreditar que tudo vai passar, só porque alguém lá em cima está cuidando.
Talvez ser ateu, no fundo, seja isso: seguir mesmo sem promessa. Mas seria mentira dizer que nunca desejei, só por um instante, acreditar em algo que me abraçasse por dentro.