O pior perigo é o disfarçado
Prefiro mil vezes um lobo que mostra os dentes, que rosna, que arranha o chão com as patas, do que um cordeiro falsificado que esconde garras por baixo da lã emprestada.
O perigo explícito é honesto. A cobra que chocalha ao se aproximar ainda dá tempo de fugir. Mas aquela que se enrola mansa no tornozelo, sorrindo com olhos que fingem doçura, essa é que dá o bote mais certeiro.
Gente ruim que assume o que é, ainda é gente de verdade. A alma torta, mas transparente. Já os atores da bondade, esses são poços de veneno com cheiro de perfume barato. São casas com fachada de ouro e porão cheio de mofo. São árvores que parecem dar sombra, mas roubam até o vento.
Gente ruim dá trabalho, mas não dá susto. A gente se prepara, levanta os muros, fecha os portões. Já o fingido, o personagem da pureza, entra, senta na sala, elogia o tapete... e quando você percebe, já surrupiou a chave da sua paz.
Por isso, se for para caminhar ao lado de alguém, que seja ao lado de quem não mente quem é. Porque até a escuridão, quando assumida, é mais fácil de lidar do que a falsa luz que cega e confunde.