Entre as grades e os trilhos
Há caminhos que se bifurcam na poeira do tempo, e há escolhas que, mesmo silenciosas, gritam na eternidade. Hoje, ergo minha taça invisível e brindo a mim mesmo — não por conquistas monumentais, mas pela arte de não tropeçar nos próprios abismos.
Agradeço-me por cada punhal que não cravei, por cada sentença que não assinei com minhas próprias mãos. A vida, essa longa estrada onde tantos se perdem, poderia ter me conduzido a verões sombrios, a invernos sem portas de saída. Mas aqui estou, sem ferir, sem carregar o peso de grades invisíveis, sem desenhar cicatrizes no destino de ninguém.
O mundo me testou — e quantas vezes! Sussurrou tentações, ergueu atalhos cobertos de névoa. Mas meus passos, mesmo hesitantes, seguiram sem escorregar no lodo da ira, sem cair no fosso do descontrole.
Então, a mim mesmo, um brinde. Não por glórias espalhafatosas, mas pela silenciosa vitória de ainda poder andar sob o sol sem carregar correntes.