Por um instante, eu vi Deus.
Por um instante, eu vi Deus...
Tudo se passou em poucos segundos e dentro deste pequeno momento de reflexão, eu vi Deus.
Vi que ele não estava presente na minha alegria e tampouco na minha tristeza, que não compartilhava meu pão ou sequer minha bebida. que não se sentava ao meu lado, que não caminhava junto a mim e não zelava por minha saúde. Vi que não se condoía com a miséria, que não castigava a opulência, que não dirigia o meu destino, que não decidia entre o mal e o bem.
Entendi de o porquê existir tanta maldade e tanta diferença entre os homens, porque temos que conviver com tanta violência, porque existem crimes hediondos, porque o respeito pela vida é a cada dia menor, porque crianças maltrapilhas vivem nas ruas e não podem brincar com meus filhos e não dou a eles o mesmo amor, o mesmo teto, a mesma atenção. Entendi por que jogo no lixo aqui, o que falta na mesa, acolá. Porque não divido o que conquisto, porque não perdoo.
Pude perceber por que multidões frequentam templos, onde cantam músicas, decoram salmos e murmuram orações que aprenderam, mas nunca entenderam. E entendi também por que religiões diferentes se odeiam em nome da mesma fé.
Porque o homem destrói a natureza em nome do concreto e mata seu semelhante em nome da justiça.
Porque se nomeiam santos, se comercializam imagens e se cultuam orixás.
Porque delegamos a Ele a responsabilidade sobre tudo o que nos é desconhecido...
Porque, se Nele acreditamos, tememos a morte.
Porque odiamos.
Por um instante eu vi Deus.
Não estava sentado em um trono, não trazia consigo um bastão, não era a minha imagem e semelhança.
Simplesmente, não me julgou, não me condenou e não me sentenciou.
Era Deus!
Texto escrito no mês de dezembro do ano 2.000.