O abismo das palavras
Há um abismo invisível entre o que penso e o que você entende. Um vão onde as palavras despencam, se perdem, se moldam ao vento do seu olhar.
O que eu quero dizer nasce como um rio límpido, mas ao atravessar a ponte da voz, se mistura com ruídos, desvia-se por pedras e, quando chega a você, talvez já não seja mais água, mas névoa.
O que digo tem asas frágeis, e o que você ouve pode ser o eco de suas próprias tempestades. Entre minha fala e sua escuta, há ventos que distorcem, mares que dissolvem, muros que filtram.
E o que você quer ouvir? Ah, isso é um filtro invisível, um espelho que reflete não minhas palavras, mas suas vontades. Muitas vezes, o que soa em seus ouvidos não é minha voz, mas o sussurro do que já morava em você.
E então vem a compreensão, ou melhor, a ilusão dela. O que você acha que entendeu talvez seja apenas a sombra do que tentei dizer. Palavras são pontes frágeis sobre um abismo de silêncios e interpretações.
Entre o meu pensamento e a sua certeza, mora o mistério das palavras: um salto no escuro, uma travessia onde nem sempre chegamos ao mesmo lugar.