Perguntar não ofende, e quem pergunta é porque quer saber

Em tempos de autorreferencialidade e autossuficiência, perguntar parece que virou crime. E isso indica, que estamos menos acessíveis, não porque queremos negar informações, é porque nosso conhecimento está ficando tão superficial, que quanto menos respondermos perguntas, mais demonstramos o nosso pouco conhecimento e a nossa incapacidade de ler o mundo.

Não perguntar ou negar-se responder ao que se nos é perguntado, marca em nós, o nosso egoísmo, por sabermos e não querermos compartilhar ou a nossa ignorância, nossa escassez de conhecimento. Quem não pergunta e não responde, também não sonha e quem não sonha não cresce. Atrofia-se mentalmente cada vez mais.

Somos uma geração, que está vivendo a grande aventura da tecnologia, bendita tecnologia, que nos oferece tantas possibilidades, tantas conquistas, mas para isso, ainda é muito necessário a leitura de textos e contextos, que impressos na realidade, nos oferecem substratos intelectuais nunca vistos.

Fico imaginando, como seriam Rui Barbosa, Clarice Lispector, Paulo Freire, Mário Quintana, Adélia Prado, Manuel de Barros, Edith Stein, Agostinho de Hipona e tantos outros e outras, se tivessem vivido nestes nossos tempos. E aí surge em minha lembrança, uma das figuras mais inteligentes, iluminadas e lúcidas de nossos dias, o argentino Mario Jorge Bergoglio, ou simplesmente, o Papa Francisco, que a despeito do que dizem, aqueles que se consideram a “elite” do pensamento atual, nos surpreende cada vez que é indagado por crianças e jornalistas. Aos seus arguidores, sempre tem uma resposta, que os deixam satisfeitos e convencidos.

Leitura e tecnologia, produzem uma argamassa perfeita para a junção de tijolos do saber. Perguntas nunca são idiotas, elas revelam a curiosidade e a sede do querer conhecer e conhecimento é poder. Não é inteligente querer demonstrar que sabe tudo e que não precisa de respostas e nem de perguntas. As perguntas têm a função de “educere”, provocar, para que o saber, que às vezes está prisioneiro do medo, se liberte e venha à luz e ilumine mentes que tateiam na escuridão.

Não tem nenhum problema, se você hoje já não se sente, em carregar um livro em seus pertences, mas tem um problema muito grave, se você, não tiver sob seus olhos e em suas mãos, alguma tela, que fale muito mais que memes ou pequenos vídeos engraçados das várias plataformas que circulam em suas tantas redes sociais.

Não tem nada mais fascinante neste momento, que a Inteligência Artificial (IA), que interage conosco, como se fosse viva e com sentimentos. Por mais maravilhosa que seja, ela ainda não é capaz de gerar informações por conta própria. Em sua capacidade aparentemente ilimitada, ela só processa e combina com a rapidez da velocidade da luz, os dados, que algum ser humano lhe fornece.

Se perguntar não ofende, e se não existem perguntas idiotas, o mesmo não podemos dizer de algumas respostas, que além de ofenderem, soam como imbecis. Então, fica a dica, não sabemos tudo, não é feio não saber. Quando alguém me pergunta e eu não sei, deveria lhe ser grato, por ter me instigado a descobrir algo mais, outra novidade. Cada vez que compartilho conhecimento, ou sou provocado a descobrir outros saberes, alargo o meu pensamento, refino a minha alma e elevo a outro patamar o meu espírito.

Quem atua na comunicação de conteúdos que elevam o pensamento e amplia o conhecimento, se torna uma espécie de “deus”, que oferece veredas para quem às vezes se via sem saída. Educadores e educadoras, que sabem que nada sabem, exercem um grande fascínio sobre seus discípulos, que os veem como Athena, a deusa da Sabedoria e da Justiça.

Não tenha medo de perguntar. Não deixe ninguém sem resposta. Estas são as duas condições humanas, que nos colocam na posição de demiurgos, que se realizam, cooperando na harmonização da vida da Humanidade.

Quando não souber pergunte e quando lhe perguntarem responda, isso humaniza, fertiliza e fecunda o nosso essencial, sermos gente.