Asas e abismos
O elogio sopra como vento de primavera, elevando-me ao céu, inflando minhas asas com a leveza da admiração. Sinto-me gigante, voando entre nuvens douradas, como se o próprio sol me saudasse.
Mas há mãos ocultas que, em silêncio, preparam o tropeço. O tapete sob meus pés não é chão firme, mas ilusão tecida por conveniências. E basta um puxão, um gesto invisível e traiçoeiro, para que eu desabe.
A queda não é apenas física, é interna. O que antes era grandeza, agora se dobra sobre si mesmo. Murcho. Não porque perdi valor, mas porque o golpe me privou do ar que me sustentava.
Ainda assim, aprendo. Nem todo elogio é sincero, nem toda queda é ruína. O céu e o abismo são extremos de uma mesma estrada. E quem aprende a caminhar sobre ela, não precisa de asas nem teme o chão.