O regador e o milagre silencioso
Entre a flor que desabrocha e a semente que se entrega à terra, há um tempo que ninguém aplaude: o trabalho silencioso do regador.
Ele não tem o esplendor das pétalas nem a nobreza do fruto maduro. Também não carrega a dramaticidade da semente que morre, rompendo-se em segredo para dar vida nova. Seu papel é discreto. Seu gesto, repetitivo. Sua presença, quase despercebida.
Mas é ele que sustenta o milagre.
Cada gota que verte, embora pequena, infiltra-se na terra e desperta raízes adormecidas. O regador não vê os primeiros movimentos do crescimento, mas confia. Não espera aplausos, apenas persiste. Ele sabe que sem sua rotina paciente, a flor jamais dançaria ao vento.
Na vida, somos muitas vezes a flor que encanta ou a semente que se sacrifica. Mas, na maioria dos dias, somos o regador: aquele que nutre, que insiste, que acredita. E mesmo sem alarde, é nessa perseverança discreta que habita a força da criação.