Apenas um Relato.
Apenas um Relato.
Toda vez que olho o mar, afogo-me!
São as vozes internas gritando como louco:
- Remem.
Sim! Remem.
É o que me diz. Essa voz estridente vem sempre no calor da desistência, no alvorecer de cada pensamento covarde, no desencadear daquela fraqueza.
- Remem!..
Ainda que lhe pareça inalcançável o horizonte, mesmo que a praia esteja violenta, ou, ver-se a deriva com o caco avariado. Mas reme.
Meu médico disse num determinado momento que eu esquecesse a moto e a Bike, pois, nunca mais eu voltaria a pilotar ou pedalar devido ao equilíbrio que não era mais o mesmo, além disso, que eu ficaria dois anos e meio acamado. Pensem, que, para um homem como eu, ativo, adepto a duas rodas foi um baque e tanto. Chorei, solucei, reneguei meus próprios atos que levaram-me a tal infortúnio, no entanto, conversando com a companheira da época, eu disse:
- Vou comprar uma Bike!
Ela retrucou afinal era de esperar, levantei da cama, sentei na ponta, arremessei meu corpo contra a parede, e, comecei a me arrastar. Levei seis meses de queda com várias feridas pelo lado sequelado, na própria cabeça e no rosto, estava tão inchado que parecia ter sido castrado. A mulher tendo quase um treco, mas, observava minha rotina, fiquei em pé, já andava cambaleando mais não caia, quando sentir-me forte o suficiente para pedalar comprei uma Bike, de novo a mulher retrucou com razão, então, comprei.
Comprei, agora era a nova e mais importante decisão. Do momento de ficar em pé até o pedalar levei oito meses, fraturei a falange do dedo, tive diversas luxações no músculos da perna e braço, mas, consegui pedalar. Fui então fazer a fisioterapia de Bike, a distancia era de nove vírgula oito quilômetros, chamei o médico mostrando que "nunca" é muito tempo. O mesmo então falou:
- É Sr. Osvaldo. Você me deu um tapa na cara. Parabéns.
Agora, era a vez da moto. Chamei meu colega de trabalho e pedi a moto para eu andar. Disse também que caso eu desse algum prejuizo arcaria com o mesmo. Ele levou a moto três dias seguidos para eu andar, neste ínterim, cai com ela as três vezes, as duas primeiras retrovisor, manete, piscas, quebraram, na terceira, o tanque teve uma moça enorme. Percebi a hora de parar e acionar o DETRAN, pois, teria que passar na avaliação deles. Marquei e no dia cedo lá estava, ao ser atendido o médico que interagiu comigo fez a seguintes perguntas:
- Sr. Osvaldo. Vejo que o senhor requer as duas categorias, A e B, a B tudo bem, mas, a A eu estou sem autorizar.
Perguntei:
- Dr. Qual o motivo de negar-me?
- Sr. Osvaldo. Como o senhor vai parar a moto numa sinaleira com o lado sequelado, teria força pra tanto?
Respondi:
- Não entendi. Como vou para a moto com o lado direito? Até onde sei paramos com o pé esquerdo no chão e o direito no freio.
- Ok. Como então o Sr. Irá passar as marchas da mesma?
- De novo não entendi! Até onde sei e não mudou a marcha é na esquerda.
Nesse momento a médica se reportou.
- Fulano. Ele sabe o que esta falando.
O médico torceu a boca e falou:
- Tudo bem. Mas, será uma moto normal. Não automática. O Sr. Fará duas aulas de moto e de carro sendo este adaptado. Tudo bem para o senhor?
- Ok. Tirarei de letra.
Ainda que meu pensamento não tinha tanta certeza. Marquei as aulas, marquei as provas tendo mérito em ambas, com apoio de minha ex e conhecidos. Hoje estou com a habilitação na mão, comprei uma moto, e, toda essa escrita é para levar a quem interessar:
- Não deixe ninguém lhe dizer que não vai conseguir. Reme mesmo que seja contra a maré, mas, reme.
Obs: Após todo este trabalho, cada suor, cada queda e seus machucados, é revigorante sentir a vitória. O prêmio. Ter ouvido daquela que foi o pilar de tudo, Débora (Companheira), a seguinte frase:
- Filho, estou orgulhosa de você, eu adoraria ter um terço desta força que emana em seu interior. Parabéns.
Texto: Apenas um Relato.
Autor: Osvaldo Rocha Jr.
Data: 08/10/2024 às 1018