Escrevo muito nas minhas poesias sobre a beleza das flores, de animais e da natureza

Escrevo muito nas minhas poesias sobre a beleza das flores, de animais e da natureza. No entanto, estou ciente que a noção, as considerações e o conceito de beleza foram criados por nós humanos. Na natureza, as manifestações, as quais interpretamos como belas, têm outras funções e utilidades. A propósito disso encontrei esse trecho do livro As origens das espécies de Charles Darwin, que achei lindíssima a forma como ele escreveu, parece que compôs uma poesia:

“Quanto à opinião de que os seres organizados foram aquinhoados com a beleza para simplesmente agradar ao homem – opinião contrária à minha teoria – farei, contudo, notar que o sentido do belo depende obviamente da natureza do espírito, independentemente de todo atributo real no objeto admirado, e que a ideia do belo não é inata ou inalterável. [...] Se os objetos belos fossem criados apenas para agradar ao homem, seria necessário demonstrar que havia menos beleza sobre a Terra antes de o homem ter surgido na cena. As admiráveis volutas e os cones da época, os amonitas do período secundário tão airosamente esculpidos foram criados para que o homem pudesse após milhares de séculos admirarem nos seus museus? Há poucos objetos tão encantadores como os delicados invólucros silicosos das diatomáceas; foram, pois, criados para que o homem possa examiná-los e admirá-los servindo das mais fortes lentes do microscópios? Neste último caso, como em outros, a beleza deriva por completo da simetria de crescimento. Colocam-se as flores entre as mais belas produções da natureza, porém tornam-se brilhantes, e consequentemente belas, para contrastar com as folhas verdes, de forma que os insetos possam distingui-las facilmente. Cheguei a esta conclusão, porque encontrei como regra invariável que as flores fecundadas pelo vento não têm jamais corolas revestidas de cores brilhantes. Diversas plantas produzem comumente duas espécies de flores: umas abertas e com cores brilhantes de forma a atrair os insetos, outras fechadas, incolores, privadas de néctar, e que os insetos nunca visitam. Podíamos concluir que se os insetos não tivessem se desenvolvido à superfície da terra nossas plantas não estariam cobertas de lindas flores e apenas teriam produzido as flores exóticas que vemos nos pinheiros, nos carvalhos, nas nogueiras, nos freixos, nas gramíneas, nos espinafres, nas urtigas, que são todas fecundadas pela ação do vento. O mesmo raciocínio aplica-se aos frutos; todos admitem que um morango ou uma cereja bem madura, sejam tão agradáveis à vista como ao paladar; que os frutos e as bagas escarlates do azevinho sejam objetos admiráveis. Mas esta beleza não tem outra finalidade que atrair as aves e os insetos a fim de que, devorando os frutos, disseminem as sementes; observei, com efeito, e não há exceção a esta regra, que as sementes são assim disseminadas quando extraídas de um fruto qualquer (isto é, quando estão encerradas numa massa carnuda) com a condição de que este fruto tenha uma coloração brilhante, ou seja, muito aparente para que seja branco ou negro. Ademais admito de bom grado que um número de animais machos, tais como todas as nossas mais lindas aves, alguns répteis mamíferos, e uma série de borboletas admiravelmente coloridas, adquiriram a beleza através de sua própria beleza; obteve-se este resultado pela seleção sexual, isto é, porque as fêmeas escolheram sucessivamente os mais belos machos; este embelezamento não teve, pois, por objeto o simples fato de ser agradável ao homem. Poder-se-ia fazer uma mesma referência em relação ao canto das aves. Lícito nos é concluir, de tudo o que precede que grande parte do reino animal apresenta mais ou menos o mesmo gosto para as belas cores e para a música. Quando a fêmea é tão brilhantemente colorida como o macho, o que é raro nas aves e nas borboletas, isto resulta de que as cores adquiridas pela seleção sexual foram transmitidas aos dois sexos ao invés de somente aos machos. Como é que a sensação da beleza, em sua forma mais simples, isto é, a sensação de prazer particular que inspiram certas cores, certas formas e certos sons, foi primitivamente desenvolvida no homem e nos animais inferiores? É uma questão muito obscura. Encontramos-nos, além disso, nas mesmas dificuldades se tentarmos explicar como alguns sabores e alguns perfumes nos impressionam muito, enquanto outros nos causam aversão. Em todos estes casos, o hábito parece ter desempenhado certo papel, contudo, estas sensações devem ter algumas causas fundamentais na constituição do sistema nervoso de cada indivíduo.” (Darwin, Charles. A origem das espécies. Trad. Eduardo Nunes Fonseca. 1. ed. São Paulo: Folha de São Paulo, 2010. p. 146, 147.)

Rodison Roberto Santos
Enviado por Rodison Roberto Santos em 27/08/2024
Código do texto: T8137833
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