O PERIGO DOS JULGAMENTOS PRECIPITADOS

Segundo é contado, na antiga China, juízes com bastante escrúpulo costumavam purificar-se com jejuns e outras práticas, antes de julgar alguém. E, com frequência, pediam novos prazos para melhor se aprofundarem na questão.

Nos textos sagrados dos antigos, percebemos não apenas cautela, mas advertências quanto ao perigo dos julgamentos.

No entanto, sabemos que nos relacionamentos que mantemos na vida é praticamente inevitável deixar de julgar determinadas situações, pessoas ou coisas. O que podemos evitar, porém, são os julgamentos precipitados, sem avaliação dos riscos que eles implicam e, o que e pior, na maioria das vezes, sem ser dado ao outro o mínimo direito de defesa.

A fábula seguinte ilustra melhor que qualquer palavra o que acabo de dizer.

Havia um lenhador que vivia sozinho com seu pequeno filho em uma cabana. Durante suas idas e vindas do trabalho para casa encontrou, perdido, um filhote de raposa e resolveu levá-lo para casa, para fazer companhia ao seu filho. Os poucos vizinhos que tinha foram unânimes em adverti-lo quanto ao perigo de ter uma raposa em casa e aos riscos que corria seu filho.

A raposa cresceu e, ao mesmo tempo, o carinho que o garoto tinha por ela. Sempre que o lenhador chegava do trabalho, antes mesmo de entrar em casa, seu filho corria para abraçá-lo e saber das novidades. Um dia, porém, ele notou a ausência da criança. Apavorado, correu para dentro de casa e viu na sala a raposa com a boca suja de sangue. No mesmo instante, pegou seu machado e matou-a. Receoso, entrou no quarto e deparou com seu filho na cama, dormindo. Perto do mesmo estava uma gigantesca cobra estraçalhada.

Você há de concordar comigo que, não raro, costumamos agir com a mesma precipitação do lenhador. Se em todo julgamento há sempre o risco de haver erros, no julgamento precipitado o erro já começa pela precipitação do próprio julgador.

Robson Rodrigues da Silva