SAÚDE PÚBLICA VERSUS CAPITALISMO PERVERSO
SAÚDE PÚBLICA VERSUS CAPITALISMO PERVERSO
A seguir, troca de mensagens entre a responsável pela escala de médicos pediatras num hospital da rede pública duma cidade satélite de Fortaleza e os pediatras que prestam serviço nessa unidade intermediados por cooperativa.
Por questões de ordem legal, são omitidos nomes dos locais e empresas envolvidas, assim como das pessoas e profissionais.
Responsável pela escala de plantão (Ciclana):
- Boa noite alguém pode amanhã à noite ?
- A vista?
Profissional médica (MDa) :
Mas é só 1 medico?
Ciclana:
Só um médico
MDa:
Vou não
EU:
Parabéns Dra. Fulana, a medicina do trabalho agradece... pediatras não são robôs. Independentemente da demanda, eles precisam repousar algumas horas. Até quando a administração do hospital e do município vai insistir nesse absurdo autoritário?
Um só pediatra na emergência de um hospital como o municipal é uma irresponsabilidade. E se houver uma emergência grave, como fica o atendimento? O pediatra tem que parar e dar atenção a ela. Quando será que os gestores vão entender isso?
Médicos (MD´s)
Tem meu total apoio! É surreal
MD´s:
Também concordo Dr Marco Antônio
MD´s:
Concordo👏🏻👏🏻
EU:
Amanhã estou de plantão pela cooperativa durante o dia, 12 horas, mesmo estando de férias como concursado. Só aceitei porque foi prometido que seria pago à vista. E pelo que me prometeram, o pagamento entraria na conta em 72 horas úteis. Pois bem, dei o plantão domingo passado e até agora não vi a cor do dinheiro.
MDa:
Eu tbm, dei plantão de 6h, à tarde, no msm dia, com o Dr Marco Antônio e até agora não recebi
EU:
Só vou amanhã porque dei minha palavra para Ciclana e essa é uma pessoa que merece todo nosso respeito. Conheço ela de longa data e sei da sua boa vontade. Reconheço sua dificuldade em fazer uma escala com esse pessoal da cooperativa que se locupleta à custa do nosso árduo trabalho.
Sei que essas declarações podem me prejudicar, mas confesso que estou doido para dar trabalho ( e também dinheiro) ao meu escritório de advocacia. Não é de agora que estou aborrecido com essa gestão.
Cheguei a ser acusado de abandono de plantão porque fui atender os pacientes azuis e verdes no posto de saúde em frente ao hospital. Os gestores ignorantes não sabem que toda unidade de saúde do município tem o mesmo CNPJ (eu sei porque fui médico do trabalho do hospital durante três anos), portanto, do ponto de vista legal, nunca abandonei plantão nenhum, pelo contrário, agilizei um atendimento complicado pelo excesso de demanda, onde todos os plantões noturnos eram casos de polícia, com chamadas pelos pacientes, inclusive para a imprensa.
Fica tranquila Ciclana, amanhã estarei às 07:00 h no plantão, mesmo sabendo que não vou receber em 72 horas, mas sei que não depende de você. Uma coisa eu sei... tem gente ganhando muito dinheiro às custas dos pediatras.
Pronto, falei o que tinha que falar. Agora, caso queiram, eu espero uma ação na esfera judicial. Ano que vem me aposento e não quero mais ter intercorrências cardíacas pelo stress advindo do hospital, como o flutter atrial que estou vivenciando no momento.
Ciclana:
Boa noite a todos. Agradeço a consideração e ajuda de todos vocês , são muito especiais e competentes na minha equipe ! To a disposição de todos pro que precisar ! Deus nos abençoe 🥰❤️
Obrigada por tudo dr ❤️❤️❤️
EU:
Te amo Ciclana, sei da sua boa vontade e imenso esforço em prol dos nossos interesses. Até peço, encarecidamente, que os colegas facilitem o seu trabalho pois, na medida do possível e do seu esforço, as coisas irão melhorar. Não fosse por isso, amanhã eu nem pisaria no hospital.
Fiz um desabafo mas rogo que os colegas pediatras, no interesse do serviço público do município e nos seus próprios, procurem facilitar o trabalho da Ciclana, que não mede esforço em nos ajudar.
Mas principalmente no interesse das crianças e adolescentes doentes do município. Boa noite a todos. Fiquem com Deus.
Marco Antônio Abreu Florentino
NOTA: É assim que consideram os heróis da época da pandemia. Primeiro os interesses financeiros individuais e/ou de grupelhos delinquentes e asquerosos. Depois os profissionais da saúde e finalmente, no fim da fila, os pacientes pobres a carentes necessitados de atenção e atendimento.