Depois de um tenebroso inverno, o pássaro resolveu arriscar um vôo.

Ergueu-se com dificuldade, esticou as asas e estremeceu o seu corpo.

É difícil tomar uma decisão depois de passar por tantos problemas.

Foram dias e dias, noites e noites de sofrimento, de preocupação, de tristeza e de abandono.

Não havia o que fazer. Não lhe faltou comida e abrigo, porém não é só de " pão e coberta '' que se vive.

A falta de com quem falar, com quem conversar, com quem desabafar era a pior fome.

A fome de companhia, a fome da amizade, a fome da convivência.

Então, os problemas chegam sempre acompanhados de outros problemas e enquanto você tenta resolver um, o outro chega imediatamente em seguida, atropelando tudo, fazendo com que o pássaro se encolhesse cada vez mais.

Mais uma vez, o pássaro não conseguiu superar tudo e por incrível que pareça, se entregou ao caos, adoeceu esticou sua asa para vários outros pássaros, pensando que algum deles lhe daria atenção, porém nada aconteceu.

Era ele por ele mesmo.

Até parecia que São Francisco de Assis, protetor dos animais, havia se esquecido dele, pois nem forças para piar ele agora tinha.

De repente, ele lembrou que um dia havia escutado uma música que dizia que ''quem cuida da você não dorme'' e resolveu olhar para o céu.

Lá não tinha uma nuvem, apenas um azul cintilante tão magnífico que o fez prestar atenção nos sons que escutava. Eram pássaros, que alegremente cantavam, fazendo arruaça nos seus ninhos.

Um feixe de luz morno e aconchegante o envolveu. Era o Sol que teimava em acaricia-lo devagar.

O pássaro resolveu tomar ânimo e aproveitou o momento, recebendo esse carinho e tomou coragem para se erguer.

Reuniu forças, ainda trêmulo, respirou fundo e ficou em pé.

Sacudiu as asas e caminhou para fora do seu ninho e resolveu: iria tentar.

Ergueu as asas, abaixou o peito, impulsionou o corpo e voou. Voou por entre os galhos das árvores, voou para perto do Sol, sentiu-se mais forte e agradeceu ao Pai Maior, que nunca o abandonara. Apenas o ensinou que momentos de recolhimento é necessário para valorizarmos os momentos de alegria e satisfação.

O pássaro estava curado.

Ele estava vivo novamente.

Nunca mais haveria de esperar migalhas.

Era ele por ele mesmo.

 

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