Vinte e quatro horas.
Vinte e quatro horas após o fechamento de um ciclo amoroso, mancho este pedaço de papel com a tinta azul, sentado no sofá da sala, ouvindo a orquestra dos pássaros na varanda como se viessem em plena chuva que cai me trazer o consolo de que a vida é como a natureza, que muda as estações do ano para a renovação de todo o ecossistema do planeta .
Vinte e quatro horas e me pego pensando na estrada a frente, que ao invés de quatro pés conhecidos agora será percorrida por apenas dois, que verão paisagens e roteiros não definidos nem esperados, não sentidos nem planejados como antes, ouvindo esta dor no peito que fala sem palavras e grita sem platéia.
Foram tantas as histórias, os abraços, os espaços amados, que viajo em lembranças, surgindo quase que de imediato a trilha sonora que embalava os nossos trilhos com a musicalidade inicialmente não bem curtida por uma parte, mas que depois passou a ser revista muitas e muitas vezes entre risos e suspiros com o "fim das baladinhas"...
Os cafés ganharam destaque, as viagens em família, as preces a dois, inclusive em um dos períodos mais desafiadores da humanidade de caráter pandêmico, foi vencido de mãos dadas. As fotos sobre os móveis demonstram a vida vivida e imortalizada no papel colorido, que tende a amarelar com o tempo, vida que seguirá o seu fluxo, respeitando a vontade de cada um, como seguimos juntos um dia, hoje estaremos como um rio que corre em águas separadas, mas tendo o mesmo desfecho, o grande oceano, o bem querer do outro transformado com a circunstância dentro da fraternidade que sempre nos abraçou.
É comum nestes instantes não querer parar de escrever? A caneta deseja ardentemente permanecer riscando a árvore sobre o colo, lembro com isso, que ela também se transformara em folha de papel para o benefício de todos. Então, é hora de encher novamente a caneca, experimentar o café deste novo ciclo, olhar os pássaros na varanda em prece contínua ao Criador agradecendo a Ele pela bela estação que ficou e me entregando ao novo tempo que Ele enviará, desconheço o seu clima, a temperatura, o tipo de solo, o alimento, mas como as aves que não produzem a própria comida, porém confia na provisão Dele, eu acredito.
Vinte e quatro horas após sigo desenhando letras no papel, como no início, elevando os olhos aos céus, rogando bençãos para ambos os lados e aprendendo com a simplicidade e perfeição da Grande Mãe Natureza e os seus ciclos renovadores de vida, permanecendo então, renascendo, crescendo, amadurecendo, escrevendo, aprendendo e servindo, vinte e quatro horas depois e mais...