Os pássaros selvagens, de José Carlos Leal, Editora Lê, 9ª edição. Comentário de J B Pereira em 08/04/2024.

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Editora: Editora Lê

Autor(a): José Carlos Leal

Ilustrador(a): Jarbas Juarez

Gênero: Ficção Infantojuvenil; Leitores; intermediários

Tema: Adolescência

Acabamento: Brochura

Formato: 14x20cm

Página: 192

O prof. José Leal, em 1991, lançou o livro acima, em BH. Sua literatura infanto-juvenil apresenta vários cenários nos 17 capítulos e breves com críticas específicas vindas do mundo adolescente até aos 18 anos. Aliás, muitas das colocações em mista forma culta e popular evidencia preocupação em registrar e responder questões dos anos 1990.

A metáfora do livro cujo título expressa aposta na liberdade como conquista e experiência, sofrimento e questionamento de costumes e comportamentos nos diversos grupos sociais próprios dos adolescentes.

Há uma vertente existencial rica por aprendizado para busca da sabedoria por vias práticas e das condições contraditórias da realidade que envolve os adolescentes. Eles se sentem abertos ao diferente, curiosos por emancipação e autonomia como a liberdade de tomar decisões e opções. Contudo, a família e a escola vivem a ambiguidade de regras e moral, ora permitindo, ora proibindo. Cabem aos adolescente com a ajuda de pais e educadores, avançar na busca do equilíbrio e do risco calculado, para não se perderem em preconceitos, generalizações, precipitações, egocentrismos, narcisismos, dependências às drogas e ao álcool, rotulações fáceis, violências, bullying, racismos, dentre tantas manipulações ideológicas.

Ainda que o adolescente tente ser diferente dos pais e amigos, veem repetindo estereótipos e atitudes massificadas e rotineiras. Há um longo processo de construções de ego e questões de identidade e aceitação da alteridade.

Outro meandro forte na obra é a dinâmica da fé e das influências religiosas ou ideias das religiões dos outros e da família. Ser ou não batizado, ser batizado quando criança ou adulto, distinguir filme e a realidade da vida de Jesus e das igrejas cristãs e suas práticas diferentes, distanciar-se do modelo de educar dos pais ou aproveitar algum critério, fazer ou não o serviço militar, ler ou criticar a Bíblia, criticar e escolher professores, que tipo de animal ou gente é o ser humano?, para que e quando escrever correto?, para que e o que ler, chorar ou não diante das contradições e filmes dos erros do homem, quem foi Jesus e o que fez, o que quero fazer com minha vida (agora que estou com 18 anos?).

Em meio a esses questionamentos, a afetividade e a sexualidade, a profissão e o dinheiro, realizar-se ou ignorar o sistema contraditório e hipócrita, ser crítico ou ignorar para fanatizar ou alienar-se? Essa tênue e insegura fronteira do bem e do mal, do ser e do ter, viver e prazer de viver, ser útil e deixar-se viver simplesmente, pervade o mundo interior dos adolescentes. Buscam modelos e referências. Para aos poucos se conhecerem, tomarem consciências de seus limites e fragilidades, até então encobertos e protegidos pela família e por outros grupos sociais.

A leitura de cada leitor indicará a sede de perguntas e respostas conforme sua idade, profissão, religião, demandas existenciais e afetivas.

Sinto que pode ser enriquecedor mesclar nossas visão de mundo às do autor e sua intencionalidade educativa.

Uma delas é o diálogo entre aspectos diferentes da vida e da sociedade. Da vida das igrejas e os fiéis. Distinguir ética e moral. Respeitar o ponto de vista do outro e o nosso. Fugir de todo fanatismo (isso o livro nos propõe com propriedade e conselho tão bem-vindo).

O caso específico do Batismo definirá diferentes grupos e tipos de igrejas cristãs. A história de 2 mil anos do Catolicismo o fez percorrer diferentes vias até o amadurecimento, em meio de acertos e contradições. Inclusive divisões como os cismas oriental (Igrejas ortodoxas de diferentes teologias e ritos ou línguas) e ocidental (com Lutero e outros reformadores protestantes ou o Anglicanismo).

O Batismo de Jesus é o início de sua pregação e a revelação da Trindade Santíssima por Jesus na Bíblia. Sim!

Com o expandir do Catolicismo, inclusive do tempo de Pedro e Paulo nos Atos dos Apóstolos, o Batismo de crianças foi acontecendo à medida que as famílias se tornavam católicas. A forma trinitária manteve sempre presente como indicada em Mateus 20, 19.

Acho raro e frágil admitir o pensamento de que porque Jesus foi batizado adulto todos devem ser batizados adultos. Claro, no começo da Igreja, houve o catecumenato, durante a Quaresma os neófitos ou os que desejavam aceitar o Batismo, esses ficavam se preparando biblica e catequeticamente. Até chegar o Sábado da Aleluia ou da Páscoa para receberem o Batismo, a Eucaristia e a Unção do Crisma. Com o tempo, pedagogicamente, a Igreja como Mãe e Mestra (Mateus 16, 16-19) começou a celebrar ou ministrar o Batismo em separado para crianças, sem abandonar o Batismo de Adultos. Ainda hoje, a Igreja Católica Romana admite os dois modos de idade para o Batismo. O uso da água é obrigatório. A forma de batizar pode ser por imersão ou derramar água na cabeça do neófito (criança ou adulto). Porque não mais no rio? Por que as águas estão cada vez mais poluídas. E o batismo de derramar água na cabeça é mais indicado e higiênico e prático. Inclusive, praticado em desertos e regiões com pouca água. A partir do século IV (4º), o Batismo de crianças já era realidade em toda a Igreja.

Outra questão hoje mais aceita: os filhos escolhem casar-se, fazer ou não serviço militar, viajar ou ter a profissão que desejam. Houve tempo que isso não era assim.

Boa leitura!

J B Pereira
Enviado por J B Pereira em 08/04/2024
Reeditado em 19/04/2024
Código do texto: T8037369
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