CEFALEIA - LÁPIDE
Entra ano, sai ano. Isso mesmo. Desde os meus dezoito anos de idade, venho sofrendo de um incômodo terrível: a famigerada cefaleia.
A partir dos meus vinte e poucos anos, acentuou-se essa moléstia. A bendita dor de cabeça me atacava somente nos fins de semana. Trabalhava normalmente, de segunda a sexta-feira, nada sentia.
Procurei por diversas vezes médicos neurologistas no intuito de encontrar uma solução para esse mal que tanto me fazia sofrer. Fiz diversos exames a fim de pesquisar o motivo do incômodo. Não se acusaram quaisquer irregularidades em meu organismo. Vários profissionais competentes me ofereceram os mais modernos tratamentos. Tive alguns avanços. No entanto, a cura não foi possível ainda. Acho que cura definitiva é difícil. O fato de haver um sofrimento menor vem me ajudando.
Certa vez busquei ajuda em uma senhora, minha vizinha, que benzia, mas não obtive êxito.
O interessante é que eu tinha períodos de melhora. Quando tirava férias e passava alguns dias em uma praia do litoral. Ao retornar à rotina em minha cidade, tudo recomeçava.
Algumas vezes, ao experimentar uma medicação nova, tinha a alegria de, em até quinze ou vinte dias, ficar bom. Mas, era um alarme falso. Depois de alguns dias, tudo se reiniciava.
Já estou com mais de setenta anos de idade e devo dizer que, quase diariamente, a cefaleia me incomoda. Antes falava com minha esposa que estava com ela. Há bastante tempo, calado em meu canto, tenho preferido não dizer nada a ninguém. Tomo o analgésico e espero a dor desaparecer.
Acredito que, durante a minha estada aqui neste planeta, será difícil me curar, embora eu tenha esperança.
Gostaria de que fosse gravado em minha lápide, quando eu não estiver mais aqui os seguintes dizeres:
" Aqui jazem os restos mortais de um ser humano, LUIZ GONZAGA PEREIRA DE SOUZA, que, praticamente, durante
toda sua vida, apesar de buscar sua cura, não a encontrou. Sofreu com a famigerada CEFALEIA. "