MENSAGEM DE UM MORTO

Estou aqui estendido neste caixão. Não posso mais falar. Antes de chegar, há algum tempo, deixei escrita esta mensagem a fim de que alguém pudesse lê-la para os que estivessem presentes em meu velório.

Quero transmitir algumas palavras, que alguém possa fazer isso por mim. Primeiramente às pessoas de minha família: esposa, filhos, netos, noras. Digo que, durante toda minha vida, eu os amei profundamente. Aos filhos, com amor de pai, preocupado em vê-los felizes e realizados. Aos netos e neta, com amor de avô, às vezes ansioso demais por não ver seus sonhos realizados como gostaria. Agradeço a todos os amigos aqui presentes e às demais pessoas que tiveram carinho e paciência comigo durante esses anos que permaneci neste mundo. Podem ter certeza de que todos foram muito importantes para mim.

Despeço-me de todos que aqui estão, dizendo que minha jornada neste planeta já terminou e que Deus me chamou. Não posso e não sei dizer o que me espera. É um mistério para nós, humanos, saber o que virá depois. Apenas meu corpo está aqui, já desligado da vida terrena. Eu já me coloquei na presença do Pai. Já prestei contas a Ele. Infelizmente não tenho como transmitir para vocês o que aconteceu. Todos, sem exceção, terão sua hora de encontro e acerto de contas com o Pai Celestial.

O choro na despedida é normal para os humanos. Peço a todos que ele seja breve. Ficarei feliz se não permanecerem

entristecidos com minha partida. A morte faz parte da vida e não há como fugir dela. Sigam em frente seu caminho, alegrem-se, vivam e cuidem de seus afazeres com dignidade e naturalidade.

Não quero estender minhas palavras. Sei que este lugar e essa oportunidade não são nada agradáveis. Quero, neste momento de reflexão, pedir perdão a todas as pessoas que porventura se sentiram magoadas comigo. Jamais foi de minha vontade atormentar ou irritar alguém. Tive momentos ruins, de impaciência, de incompreensão, situações que podem ocorrer com qualquer um de nós.

Foram oportunidades as quais não consegui me controlar. Às vezes, mesmo que doesse, senti que deveria falar a verdade para algumas pessoas, embora sabendo que não gostariam de ouvir. Saibam que a intenção não foi de magoar, de vingar. Durante toda minha vida, sempre pedi a Deus que me fizesse uma pessoa melhor a fim de que não fizessem infelizes as pessoas a meu redor.

Deixo, neste momento, meu abraço, infelizmente frio, porque o meu cadáver já começou a sofrer a ação consumidora do tempo. Não posso sorrir mais, não consigo olhar no fundo dos olhos de todos que aqui estão. No entanto, quero dizer que minha partida acontece com naturalidade. Deus, nosso Pai, já me chamou e, um dia, querendo ou não, todos terão que se render à terra e se encontrar com Ele.

Para finalizar, repasso as palavras de Santo Agostinho, as quais gostaria que fossem colocadas em prática:

“A morte não é nada.

Eu somente passei

para o outro lado do caminho.

Eu sou eu, vocês são vocês.

O que eu era para vocês,

eu continuarei sendo.

Me deem o nome

que vocês sempre me deram,

falem comigo

como vocês sempre fizeram.

Vocês continuam vivendo

no mundo das criaturas,

eu estou vivendo

no mundo do Criador.

Não utilizem um tom solene

ou triste, continuem a rir

daquilo que nos fazia rir juntos.

Rezem, sorriam, pensem em mim.

Rezem por mim.

Que meu nome seja pronunciado

como sempre foi,

sem ênfase de nenhum tipo.

Sem nenhum traço de sombra

ou tristeza.

A vida significa tudo

o que ela sempre significou,

o fio não foi cortado.

Porque eu estaria fora

de seus pensamentos,

agora que estou apenas fora

de suas vistas?

Eu não estou longe,

apenas estou

do outro lado do caminho…

Você que aí ficou, siga em frente,

a vida continua, linda e bela

como sempre foi.”

LUIZ GONZAGA PEREIRA DE SOUZA
Enviado por LUIZ GONZAGA PEREIRA DE SOUZA em 10/02/2024
Reeditado em 04/08/2024
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