Só vai
Com coragem, sem coragem. Vai! Por amor, por valentia. Vai! E a sombra? Tá sempre lá, a espreitar. E se não for, é besteira, passa a vida corroendo em covardia! Vai com medo, medo e ousadia. Brandindo, mal querendo de desejar, mas vai indo, caminhar. Faz o que deseja, mesmo sem certeza do querer ou com o pavor do não saber.
Casar, ter filho, operar, mudar de país... a gente quer não querendo; ou não quer, com uma vontadezinha a espreitar.
Já reparou, a gente quando não quer uma coisa, tem certeza? É uma repulsa. Uma desvontade. Se a gente não tem certeza, é que um pouco a gente já quer.
E quando quer, também, é um desassossego. Um rio que deságua urgente, uma revoada migrando certeira, uma queda de cachoeira. Quando pensa em começar, já está no caminho, sem freio pra voltar.
Duvidar é não lugar. A pausa da indecisão, do sobejamente hesitar. Coração e cabeça num labirinto, sem nunca se encontrar. Hora de encontro desencontrada ou ponto desreferenciado. Dois perdidos, desorientados.
Tem quem indique: ponha lista, analise, pese, balanceie. Que nada! Que a gente põe na lista já roubando o que o coração decidiu e não comunicou. A cabeça, pensa que tá mandando certeira, objetiva, clarividente, vai organizando. Mas o coração, quieto, sorrateiro, sem alarde, vai toando.
No desfecho, acha que pensou, mas foi mesmo despensado.
Se é assim, pois, só vai. Não pensa, vai. E se não der certo? Reinventa e vai.
Lilly Pingo - 03/06/23