DUAS CAIXAS...

Eram duas caixas que todos os dias aquela mulher abria,

colocando algo dentro delas. O que deixava mais curioso para a sua

família é que numa ela queimava o que colocava, e fazia anotações num

caderno. Os anos foram passando, ela continuava naquele ritual. Até

que adoeceu e chamou os familiares para uma conversa. Meu tempo

neste Planeta Temporário está terminando. Quando eu fizer a minha

viagem quero que abram aquelas duas caixas. Os familiares ficaram

intrigados, mas a respeitaram, não abrindo antes da partida. Quando

retornaram do sepultamento, reuniram-se, decidindo abrir as duas

caixas, tamanha a curiosidade. Será que é dinheiro, ações, casas, joias,

que vamos herdar? Qual foi a surpresa, com um pouco de decepção.

Numa eram bilhetes que ela escrevia: amor, fraternidade, empatia,

solidariedade, respeito, gentileza, compromisso, responsabilidade,

exemplo, educação, trabalho e perdão, essa é a herança que eu deixo

para vocês. Na outra que ela queimava e fazia anotações, ela escrevia,

que não devemos levar para a outra dimensão: raiva, ódio,

desentendimentos, ganância, preconceito, vícios, irresponsabilidades;

precisamos nos corrigir enquanto temos tempo.

Sinto saudades quando reuníamos com o verdadeiro barulho do outro.

Os adultos proseando, as crianças correndo e brincando. Não

tínhamos o barulho do rádio, da televisão e, hoje para piorar, o celular.

Não precisamos ser retrógados, mais o calor do outro é remédio para

muitos males, principalmente para a tristeza, que é uma porta aberta

para a depressão, ceifando muitas vidas. Menos medicamentos,

evitando efeitos colaterais ao organismo. Que tal, prestássemos mais

mais atenção ao outro?

Atitudes que não gastam tempo e dinheiro, COMO VAI?

Marízia Magalhães
Enviado por Marízia Magalhães em 04/07/2023
Código do texto: T7829270
Classificação de conteúdo: seguro