DUAS CAIXAS...
Eram duas caixas que todos os dias aquela mulher abria,
colocando algo dentro delas. O que deixava mais curioso para a sua
família é que numa ela queimava o que colocava, e fazia anotações num
caderno. Os anos foram passando, ela continuava naquele ritual. Até
que adoeceu e chamou os familiares para uma conversa. Meu tempo
neste Planeta Temporário está terminando. Quando eu fizer a minha
viagem quero que abram aquelas duas caixas. Os familiares ficaram
intrigados, mas a respeitaram, não abrindo antes da partida. Quando
retornaram do sepultamento, reuniram-se, decidindo abrir as duas
caixas, tamanha a curiosidade. Será que é dinheiro, ações, casas, joias,
que vamos herdar? Qual foi a surpresa, com um pouco de decepção.
Numa eram bilhetes que ela escrevia: amor, fraternidade, empatia,
solidariedade, respeito, gentileza, compromisso, responsabilidade,
exemplo, educação, trabalho e perdão, essa é a herança que eu deixo
para vocês. Na outra que ela queimava e fazia anotações, ela escrevia,
que não devemos levar para a outra dimensão: raiva, ódio,
desentendimentos, ganância, preconceito, vícios, irresponsabilidades;
precisamos nos corrigir enquanto temos tempo.
Sinto saudades quando reuníamos com o verdadeiro barulho do outro.
Os adultos proseando, as crianças correndo e brincando. Não
tínhamos o barulho do rádio, da televisão e, hoje para piorar, o celular.
Não precisamos ser retrógados, mais o calor do outro é remédio para
muitos males, principalmente para a tristeza, que é uma porta aberta
para a depressão, ceifando muitas vidas. Menos medicamentos,
evitando efeitos colaterais ao organismo. Que tal, prestássemos mais
mais atenção ao outro?
Atitudes que não gastam tempo e dinheiro, COMO VAI?