Na máquina do mundo é hora do recreio!
Na máquina do mundo é hora do recreio!
Autor: Tony R. M. Rodrigues
São José, SC, 08/06/23 - 11h05.
I
Numa partida de xadrez em que perdeu o diabo,
este pensou em não dar por vencida
a partida perdida, nem sua partida,
e então sorriu: - Com o ser humano acabo...
Chegou-se aos homens e suas mulheres
e prometeu um saboroso fruto
pelo qual ninguém precisaria ao luto
se dedicar, como os normais seres.
Era mais simples: aos interessados
bastava ir diminuindo o fardo
com menos ar pelas narinas inspirando.
O ar que, grátis Deus nos dera, dar um cabo
queria - sem que o homem soubesse - o diabo
e só pra ele inspirar com seus comandos.
II
Mas Deus é Pai, e vendo a falta de oxigênio
com que morriam até os mais nobres gênios
e as mais humildes das humildes gentes
pensou: - Com esta peste será diferente!
Deixou a mala do maléfico encher-se
do ar de todos, até reconhecer-se
que só o Corno do capeta enchia
do puro ar que todos tinham um dia.
Então a plebe, o clero e a dinastia
selaram acordo para que a agonia
de não ter como respirar findasse:
a chuva veio, houve fotossíntese,
e Deus bendisse a Terra, dando síntese
e ao plano sórdido fez com que acabasse.
III
Pobre diabo: sempre descontente
achou que o novo ouro corrente
não sendo o ar, seria então a água
e deu a esta um tal sabor de mágoa
que muita gente em sua onda entrava
de engarrafar promessa de virtude
mas esqueciam que era a atitude
que bendiza a água que se tomava
e veio o tal governador, chamando
às pressas o prefeito, que ao vigário
também chamou, para que se expurgasse
da água o cheiro e o sabor, mas quando
todos souberam que era o itinerário
de cada ação que dava o odor, impasse
IV
houve na igreja, prefeitura, e as casas
ouviram um insuspeito par de asas
partir contente com o que havia
causado sem vão remorso ou agonia.
Só que o diabo, querendo-se astuto,
nunca deixou de ser o mais matuto
e ignorante aprendiz da turma:
agora mesmo, enquanto ele se enfurna
feliz e só, achando que as pessoas
continuarão a beber insalobra
água benzida com más intenções,
a mesma água, límpidas colorações
vai recebendo a cada boa obra
que as almas pedem e o prefeito cobra.
V
Não há mistério - isso a penas duras
o povo, o rei, os santos e até os bichos
enfim entendem: - Cuide bem do lixo,
não mate abelhas, sejam as criaturas
entre si cientes e mais conscientes
para haver mais pólen, menos poluente,
muito mais água sem gosto de mágoa,
ar limpo e grátis, não sugado em dragas.
Não queira cego andar e nem estar no meio
de quem só enxerga monstros e miragens
e creia, todos nós estamos de passagem,
na máquina do mundo - e é hora do recreio,
por isso não é preciso que se adiem
os compromissos, mas carpe diem.