Uni(di)versidade (Introdução à participação de Cláudio Carvalho Fernandes no livreto de poemas intitulado "Corredores" 2005)

 

 

uni(di)versidade


 

A vida universitária naturalmente apresenta desafios e perspectivas novas a todos nós, colocando-nos um pouco ansiosos com a realidade de uma nova escola, novos professores, novos colegas e, para alguns, nova maneira de ver a própria vida. Sendo um mundo novo para cada qual, ela representa um momento de transição, de encontros e possíveis rupturas. Todas as expectativas trazidas do ensino secundário e alimentadas na própria vida na Universidade - os exames, a convivência, afinidades e dessemelhanças, os trabalhos, as perspectivas de bom sucesso ou fracasso, de uma nova aventura que exigirá ainda mais de nós... mas que também pode ser bem mais divertida.... - são normais e fazem parte desta fase de adaptação a um contexto de possibilidades mais amplas, em aberto.


 

A forma como os outros (familiares, amigos, professores e os próprios colegas) nos vêem e mesmo a maneira como nós encaramos as atividades, o modo de ser e fazer as coisas, são diferentes. Assim, esperam de nós uma maior responsabilidade e maturidade. O nosso autodidatismo é agora mais importante. Mas as dúvidas persistem, senão aumentam. As atividades acadêmicas são variadas e englobam uma vasta área de interesses, representando uma opção que talvez nos afete por todo o restante de nossas vidas e importando em muitas escolhas relevantes, com seus múltiplos aspectos de tensões e desafios para se desenvolver uma vida equilibrada e produtiva(?) no contexto de algo que tem uma cosmovisão própria, por vezes invasiva de todas as esferas da vida, estabelecendo relacionamentos vitais desde a competitividade e autonomia até uma visão definidora de nossa própria ética (ou ótica) e moralidade, passando por uma filosofia de atuação que contempla a auto-suficiência, muitas vezes irresponsável, improdutiva e/ou inconseqüente, se confrontadas diante da baliza do serviço comunitário e humano.


 

A convivência no ambiente do campus pode, então, afetar positiva ou negativamente nossa forma de ver a coisas, como parte natural de nosso amadurecimento, na importância de reconhecer nossa individualidade no processo de interação contínua que leva à identidade do ser com o mundo ou à sua transformação, possibilitando ter uma atitude crítica diante (ou dentro) da nossa cultura. Daí termos (ou não) a segurança para sermos nós mesmos, fazer amigos, e viver com independência, sendo para isso fundamental explorar todas as vias e as possibilidades que uma vida universitária nos oferece. Por isso, fomos privilegiados, mas, infelizmente, a vida na Universidade não é só feita de alegrias e pudemos perceber também que nunca houve interesse real por parte dos governos em criar excelência no ensino público, vivendo-se constantemente em um regime de contenções, quer material ou humana [isso antes dos governos de 2003 a 2016, e posteriores a esse mesmo 2016]. Crescendo juntos, nós e a Universidade tentamos cumprir a tarefa e a vontade de criar e difundir cultura, dando aos demais a possibilidade de se tornarem cidadãos de um mundo melhor.


 

Assim, a vida na universidade foi uma experiência que valeu a pena (mesmo porque sempre vale a pena, se ainda se está vivo, sobrevivendo... ou não vale?...) e recompensa qualquer esforço estruturar novos caminhos do conhecimento, partilhar com os outros a busca interminável do crescimento e da participação, conviver com o simples e o complexo, estímulos permanentes, que deixam pouco lugar para o que não seja missão de cidadania e serviço, gratuidade (ou nem tanto) em que se busca que a vida se torne plena.


 

Cláudio  

 

 

Chapada do Corisco (Teresina), Piauí, 2005.
 

 

 

 

 

 

 

 

 

Cláudio Carvalho Fernandes
Enviado por Cláudio Carvalho Fernandes em 18/01/2023
Reeditado em 18/01/2023
Código do texto: T7697891
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