Assim que nascemos, nosso primeiro movimento em direção à vida foi inspirar... Na sequência, chorar.
Choramos para abrir os pulmões e expulsar o líquido retido dentro deles, trocando-o por oxigênio – o combustível da vida. Naquele momento o choro ainda não estava associado ao sofrimento que tanto afeta a qualidade de vida da maioria de nós.
O sofrimento, aliás, é uma das respostas à nossa resistência ao que é e não pode mudar; resistência evidenciada pela negação/exclusão de fatos, histórias, experiências relacionais que permeiam o nosso caminhar neste mundo, etc. Ao negarmos e excluirmos algo ou alguém, ficamos presos às imagens que construímos sobre tais fatos, histórias e/ou envolvidos no processo. Assim, identificados, deixamos de fluir com as experiências da vida e, consequentemente, de viver o momento presente.
Vale lembrar que o presente é o espaço/tempo onde a vida acontece de fato. Podemos decidir e agir somente no “aqui e agora”. Assim sendo, a vida é a soma de instantes bem ou mal vividos... Fora do momento presente, apenas “situação de vida” onde um passado sombrio e/ou futuro incerto dão as cartas, anulando esta preciosa dádiva. Viver ou existir?
Enquanto escrevo estas poucas linhas, ondas do mar acariciam as areias da praia e se recolhem. Consciente, percebo o movimento sincronizado da vida presente em mim, no mar... Por fim me dou conta da gritante diferença: ele não retém objetos que o ferem. Amorosamente, deposita nas areias da praia aquilo que não faz parte da sua natureza e segue, inspirando e expirando...
Ainda sobre a arte de viver, o grande poeta Fernando Pessoa – com vestes do seu heterônimo Alberto Caeiro – nos deixou um verdadeiro tesouro poético:
“Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas - a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra coisa todos os dias são meus.”
Cientes de que a vida – por mais longa que seja – é breve e, ao partirmos deste mundo, nosso último movimento vital será expirar... Vivamos, então!