Mais do que pedaços de carvão!

E se estivermos errados!? E se estivermos agindo por medo, e se forem apenas nossos instintos falando alto? E se estivermos colocando nossas expectativas em ações e atores que potencialmente poderão se voltar contra nós futuramente para entregar o que pensamos ser o ideal para nossa sobrevivência? E se a nossa escolha se voltar contra nós? E se, em nome da ordem que tanto clamamos e achamos ser o melhor remédio para nosso tempo, formos amordaçados? Pois de que outra maneira se alcança a ordem? Senão por meio de imposição, de censura, de recrudescimento policial. Não se impõe ordem com flores nem abraços. Será que mantermo-nos apegados a valores, que outrora foram de fato necessários, mas que hoje vimos já não ser mais condizentes com os anseios do espírito de nossa atual sociedade, é sábio? Vimos, pela história, o quanto, em nome da ordem, banhos de sangue se fizeram. E quem somos nós, para exigi-la quando nós mesmos somos, em nosso íntimo, uma desordem total!? Será mais uma vez nossa hipocrisia gritando de dentro de nós!? E o que fazer então!? Nos abster? Não! Primeiro devemos esclarecer nossos pensamentos, esquadrinhar nosso coração e verificar o quanto estamos sendo movidos por nossas emoções e o quando pela razão. Segundo, precisamos ter claro em nossa mente: em qualquer tempo, sob qualquer política, não passamos de peão num enorme e complexo tabuleiro de xadrez. Não importa o que queremos, em nome do que quer que seja, a pretexto de qualquer bem comum, seremos prontamente descartados. Nos ensinaram a romantizar a vida, e ela não é. Só nos resta fazer coro com aqueles que veem dessa maneira: sermos o contrapeso num sistema que só nos enxerga quando fazemos barulho, quando incomodamos, quando reivindicamos, quando ameaçamos sua hegemonia. Por essa perspectiva, a ordem servirá apenas para o propósito daqueles que querem manter-se inabaláveis em seus espaços privilegiados de poder e conforto, conquistados a nossa custa. Mas a desordem, essa sim nos será mais útil, pois os confundirá, os deixará atordoados e os obrigarão a negociar e nos atender. A história é prova de que de nenhuma outra maneira fomos reconhecidos ou tivemos nossos direitos respeitados. Somos muito mais do que apenas pedaços de carvão alimentando a grande máquina a vapor que move as engrenagens do mundo. Grite, seja baderneiro, não porque você não tenha ‘princípios’ ou não seja ‘civilizado’, mas porque de outra forma, você não será ouvido, não será visto, será apenas só mais um parafuso ‘bonitinho e apertadinho’ da engrenagem.