SE CONVIVER FOSSE FÁCIL . . .

 

Se conviver fosse fácil,

não haveria tanta gente

tratando mal outras gentes,

nem tanta gente mal tratada.

 

Se conviver fosse fácil,

os familiares não brigariam tão facilmente,

e as amizades não acabariam

por qualquer bobagem,

ou por falta da escuta.

 

Se conviver fosse fácil,

não haveria tantos

casais se desarmonizando,

nem tanta separação precipitada.

 

Se conviver fosse fácil,

abraçar com afeto não seria tão difícil,

e os beijos transcenderiam

as exigências implícitas

da troca inconsciente.

 

Porque conviver exige um

“eu não te compreendo”,

seguido de um

“eu me disponho a te ouvir”.

 

Porque muito pouco se ouve,

e muito exacerbadamente se fala.

 

Porque abstrair as vivências do Outro,

sem qualquer apedrejamento,

requer a escuta atenciosa,

a predisposição nutrida pela ignorância

do que ainda não somos capazes de tolerar,

mas que somos capazes de aprender

a compreender sem julgamento.

 

Porque conviver é muito mais

sobre o “Outro” do que sobre o “Eu”:

é a conjugação do "Nós" 

em harmonia, apesar das diferenças.

Se não fosse assim,

o prefixo “con” seria

um mero enfeite vocabular.

 

Conviver sem os silêncios da escuta é ilusão.

A escuta é uma pausa amorosa:

não se convive sem a escuta,

e não se ama sem os silêncios.

Kélisson Gondim
Enviado por Kélisson Gondim em 30/09/2022
Reeditado em 30/09/2022
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