ESTAÇÕES
Todas as estações têm sua magia e cada uma singularmente vive a sua beleza e plenitude. A própria natureza sempre esteve diante de nós, cheia de bons exemplos e acima de tudo repleta de bom senso. Nós, humanos tão cheios de inteligência, somos tão incompetentes diante do nosso próprio tempo, quando esmagamos o outro, quando egoisticamente nos achamos os campeões e deixamos no esquecimento a sabedoria de quem nos trouxe até aqui, passo a passo, sem pressa e com muita paciência. Onde a reciprocidade do gesto?
Afastamo-nos do afago da mão cansada, sempre pronta a uma carícia; da palavra sempre doce, como bálsamo nas nossas dores. Julgamos e condenamos à solidão e ao silêncio, sem defesas, milhões de seres humanos. Velada ou escancaradamente subestimamos a sabedoria, como se o tempo fosse capaz de atrofiar sentimentos, alma. Tiramo-lhes o direito até ao amor e jogamos ao esquecimento nossos heróis, doces companheiros, homens e mulheres que projetaram a vida e que são postos de lado, com o algo inútil, nas sobras, sem direito ao amanhã. O tempo os coloca frente ao espelho cruelmente - com pesos e medidas - e são levados na esteira do descaso.
Será que chegaremos ao absurdo de se criar campanhas, cartilhas, para ensinar o bê-á-bá do respeito, dos bons costumes e do amor para com aqueles que doaram o seu melhor, que chegaram antes, com as mãos cheias de sementes e frutificaram o nosso hoje?
Julgamo-nos completos, sem pensar que sem eles não temos história, não somos nada. E embora a solidão seja a mais próxima das companhias, as mãos que um dia nos sustentaram e hoje tão frágeis, conhecem a decepção de dias frios, jamais se negarão a um gesto grandemente digno, ainda que seja o último: o do perdão!