E o que é a verdade?
Uma longa reflexão para este tempo que clama por razão...
Crescemos num mundo pré-moldado, de conceitos estabelecidos e muito rígidos. Somos condicionados há longo tempo a determinados paradigmas que nos aprisionam a mente, o corpo e a consciência. Isso nos impede a vislumbrar o diferente com os olhos da alma, e perceber a verdade que se revela através do amor genuíno.
Logo quando aportamos neste mundo, somos imediatamente tocados pela aspereza de um universo típico e programado. A luz, os sons, odores, o toque, tudo isso nos cai como uma grande e pesada pedra de concreto, ali mesmo no hospital, logo após o tapa do nascimento. Embora, para muitas pessoas, isto não seja algo tão simples, sugiro que não leiam esta idéia através dos olhos de quaisquer crenças, religiões, conceitos de outrem ou verdades dadas como absolutas, até, porquê, não me agrada a idéia de evangelizar descobertas, pois, o saber é um direito, mas também deve ser uma escolha. Apenas, sugiro que abra seu coração e sua mente, escute o que lê, questione, busque outras possibilidades, compare, reflita, se dê a oportunidade de enxergar novos horizontes e construir novas perspectivas. Há um propósito divino em tudo que chega até nós e, ao contrário do que muitos acreditam, creio que o mundo está a funcionar perfeitamente, como uma complexa e inteligente engrenagem, composta por você, por mim e por todos, de forma que somos responsáveis pelo sucesso ou não deste funcionamento contínuo. Aproveite e dê uma pausa aqui, pense um pouco sob esta linha de raciocínio e perceba que como parte da “engrenagem” tudo que afetar o outro nos afetará diretamente.... Diante desta constatação fica evidente que o amor é o melhor caminho para um mundo de paz e equilíbrio, pois, apesar da vida humana neste planeta se portar como uma grande roda impulsionada através das polaridades que a regem, nossos sentimentos e ações estão interligados intimamente a força motriz responsável por toda arquitetura deste universo. Num intento de aprimoramento consciencial justo e abrangente, não me parece coerente castigos celestiais seletivos, ou, então, erros que não possam ser sanados no movimento invisível e constante de nossas escolhas, de tudo que criamos sob a carga negativa ou positiva que emanamos física e metafisicamente. Por isso, atribuir a Deus uma mente primária, de um ser que julga e pune, amedronta, abandona, privilegia alguns e outros não, é um paradigma que pode ser quebrado através do conhecimento que não cessa. Durante milhares de anos, fomos escravizados por pensamentos limitantes, hora pela ignorância de algumas ciências, hora pelo propósito obscuro de mentes maquiavélicas. Infelizmente, trata-se de um longo tempo de inércia e retrocesso subestimando o poder e a real essência do criador, intrínsecos em cada um de nós que dele foi gerado. Comodamente, passamos a nos colocar como vítimas, livrando de nossas costas o peso da responsabilidade de nossos erros, bem como, o trabalho árduo de repará-los. Fomos perdendo a capacidade de perceber a magnitude por trás do aprendizado que sucede cada expiação, como ferramenta de evolução.
Chegamos a este tempo de significativas transformações com uma mentalidade ainda muito enrijecida a conceber o novo, mas as diferenças têm exercido papel fundamental no processo de transição consciencial para um nível mais elevado - o que se faz urgente e necessário. Cientificamente, sabemos que o desenvolvimento da raça humana é um contínuo lapidar neurobiológico e, está sendo neste exato momento, porque todo universo, tudo que existe nele, é movimento, é energia que se expande o tempo todo, e isso não é misticismo, religião ou fantasia, é científico, é real, embora complexo para ser entendido sem conectar a ciência biológica a história que fora soterrada sob as areias do tempo. Somos muito mais do que um simples corpo denso, somos registros vivos da infinidade divina, somos a extensão do criador na própria criação. Vasculhe nas memórias de sua alma, de seu coração, ouça sua intuição, se reencontre consigo mesmo na sua mais franca verdade e encontrará o inefável.
Hoje, entendo que, as memórias essenciais fazem parte de quem somos e não há como sermos separados do todo que nos compõe, desde nossa consciência mais sutil até cada célula que forma cada parte do nosso corpo. De fato, isto, é algo destoado no universo humano convencional, onde as pessoas estão sempre a fazer as mesmas coisas todos os dias, sem se aperceberem que estão aprisionadas num eterno estado cíclico. Adquirir esta percepção é algo que impacta nossa existência, de forma complexa, negativa e positiva ao mesmo tempo, no entanto, são estas extremidades necessárias para o desabrochar essencial de qualquer ser humano, independentemente de sua condição.
Para compreender e aceitar as diferenças que florescem neste mundo cada vez mais e mais, é preciso nos desconstruir de crenças equivocadas, modelos sociais ultrapassados, formas de comunicações pré-estabelecidas.... Pensem em todo o aparato de significados que envolvem uma simples palavra, mas que na maioria das vezes não são percebidos por aqueles que dizem e aqueles que escutam, justamente pelo fato de haver sempre um pensamento linear sobre tudo.
A desconstrução daquilo que nos foi dado como padrão imutável desde a mais tenra idade, daquilo que se tornou hábito e dogma, não é algo fácil de se realizar, visto que, para muitos, ainda, demanda tempo e vontade, resiliência e persistência, sob um processo doloroso de extrema negação, entretanto, a reconstrução sobre as bases sólidas do entendimento e não da simples e cômoda aceitação de tudo, me parece ser a chave para um futuro justo e próspero. Dito isto e não menos importante, sublinhe-se que não sou e nem tenho a pretensão de ser dona de quaisquer verdades, mas tenho plena convicção de que tanto a dúvida como a busca por entendimento é direito de todos, que o caminho da mestria é complexo, contínuo e entrelaçado.
Procurei estampar nesta perspectiva a importância dos sentimentos no exercício da razão, de nos deixarmos guiar pelo impulso da compaixão e da empatia, bem como, sair da inércia do mundo das ideias, dos discursos acalorados e tão vazios, das indignações que não se revertem em boas ações, a fim de construirmos um novo mundo, mais lúcido, pacífico e acolhedor.
Sejam todos bem-vindos a esta leitura, que ela possa ser como fogo que lança luz ao comodismo de abraçar, cegamente, verdades alheias - prontas, perigosas ou mornas, sem nenhum efeito transformador positivo - antes de fazer qquer análise..., mas que, também, possa ser uma companhia agradável para aqueles que já enxergaram o caminho.
Por Lucília Reale