Aristóteles continua atual
Dói-me no peito e na alma constatar que Aristóteles continua atual, ou seja, que tudo, em dramaturgia, não passa de catarse e expiação a partir da identificação imaginária com o herói médio; e a reflexão que vá para as favas contadas. Na década de setenta costumava-se falar que não se devia acreditar em ninguém com mais de trinta anos, hoje a moda é não acreditar em ninguém que ainda não tenha ido aos infernos e depois voltado "curado". Pagou de bom moço tá perdoado, o importante é reciclar seja por culpa, remorso, graça recebida ou qualquer fórmula miraculosa que Outros como a vênus prateada se autorizam veicular para que ela, também, possa posar de xamã soberano e, assim, gozar da hegemonia imposta à aldeia global. Mas, então, a gente só cai na real se a globo mostrar e concordar? Apenas se pedirmos “mais uma dose de Outro, por favor”?
Os clichês televisivos utilitaristas sobrevivem e participam de um profundo desconhecimento e desconsideração coletivo (um nada querer saber) do que seja estrutura e constituição do sujeito, do recalque, da repetição, das dificuldades e do trabalho árduo que é preciso empreender para que se possa realmente promover alguma mudança considerável dos sintomas. Então, um psicopata como Félix, nascido de uma mãe não menos igual simplesmente de uma hora prá outra vira santo e beata respectivamente e segue em frente? E a galera vibra e acredita. Simplório demais e, por isso mesmo, lamentavelmente, na panela global, pra quem quer acreditar, fiável demais. Infelizmente, Aristóteles, que era escravagista, tinha razão. Dá-lhes pão e circo e tudo fica normal.