O CERRADO

Flamarion Costa
Dez/1977

Vislumbra-me  esta beleza, tanta, intacta! 

a  perder de vista no horizonte...

 

Campinas... veredas tantas

águas de nascentes brotam

do seio da terra viva

A vida escorre, formando rios

de indescritivel beleza!

 

Chuvas e sol na medida certa

O mato verde... o cheiro de terra molhada
Fauna e flora em  harmonia

um pomar plantado pelo Criador!

Frutas exóticas; Caju, Pequim e araças

Araticum, cagaitas, puças

E a vida animal pelas trilhas

O Cerrado... A vida!

Quão generosa mão Ddivina 
que nos deu este pedaço de chão

por paraíso.


É de lá que as águas veem semeando vida!

Correm livres es dadivas

Vida... vida... viva!

 

É de lá que o vento vem

Trazendo nuvens de chuvas

 que se  espalham aos quatro cantos

do cerrado infindo...

 

É de lá  que a esperança escore 

 feito água  escorre,  canção que marulha

águas corredeiras, cachoeiras lindas

a regar nossos  sonhos ...

 

 - Cerrado! Cerrado!

Onde os animais livres pastavam

O canto dos pássaros, uivos e urros

nos encantavam!

Cerrado... Cerrado

rompendo fronteiras além. 
Planalto brasileiro insondável
admirável imensidão

Que se perde de vista!..
Flora, fauna e muita paz!


Uma aparente solidão, 

entretanto, em cada canto

vestígios de vida...

 

O beija-flor, a jurití, a codorna

e o inhabu!  a zabele

A coruja que não dorme...

O tatu canastra

A onça pintada

O lobo guará,  a sucuri!

O tamanduá e o catingueiro

Ah como era lindo 

O cerrado brasileiro...

 

Sem se quer uma mão humana

pra desmanchar o cenário!

Lá 

raros viajantes passavam
em tropas de mulas, 

ou nas carrocerias dos velhos pau-de-arara

contemplam encantos, o cenário...

 

Vagueiros, boiadas sguiam suas toadas

desafiando  enchentes e perigos...

 

Meus olhos brilham

com as lembranças de lá.

O verde das campinas 

as árvores exóticas 

aparência frágil

Tortas e rasteiras 

por vezes tão  secas,

 mas  tão cheias de vida...

 

Flora... fauna ...

Tanta terra e tanto céu!

O canto da seriema...
O uivo  do lobo guará

o urro da onça pintada...
Araras cruzando os céus

cheias de graça se fartam

na abundancia de vida,

de infinita paz!

 

Oh Deus que belo é

o Cerrado brasileiro.!

 

Cerrado... cerrado!
Vertentes rubras

luzes boreais no céu

anunciam a noite fria...
e transformam o cenário 

num show de cores boreais

que só no Cerrado se vê!

Cerrado... cerrado!
onde tudo é quietude, 

paz intocada...
Terras  virgens..

Sonhos pueris no canto

do pássaro preto

Em bandos nos buritizais

 

O céu tomado de estrelas

que brincam, 

cruzam o vácuo

num rastro de luz, vagueiam

 mudando de lugar,

feito crianças levadas

sem limites pra sonhar.

 

Estrelas cadentes iluminavam a noite

dos que distante as fitavam desejando um dia

quem sabe! quem sabe!

o amor... O cerrado!


Na mata escura

pontos de luz
Iluminavam a escuridao!
candeeiros que lumiam

as matas?

Não! Não!
Eram vagalumes

que vagavam
e olhos selvagens atentos que espiam os vaqueiros

as tropas  que passavam!
...
De repente gritos, desesperados, alaridos

rompem a paz

da noite escura

nada mais se harmoniza...


Eleva-se no horizonte

uma cortina  de fumaça...

e o vento vem varrendo

o chão 

como  vassouras de fogo, arrasando tudo pela frente!


Desespero gritos alaridos animais indefesos correm 

fogem da morte

milhares de aves voam atortoadas e sem rumo

em meio a noite escura...

 

E ao amanhecer 

o retrato das vidas perecidas jaz na areia ...

 

À paz perdida jaz, a vida...

Arvores retorcidas,

resistiram ao fogo

outras tornaram-se  carvão O fogo passou deixou atrás

um rastro de destruição

e dor!

Vidas pereceram

no cenário  de cinzas

o sonho virou pó 

se apagou!

 

Ah! se fosse o fogo

o grande inimigo

a vida no cerrado

não seria de tudo triste..

 

Renasceria das cinzas

as sementes que o fogo

quebrou  a dormência

 e faz a vida renascer

na rotina de uma saga

o fogo é consequencia natural, ciclo

vem e passa.


Trás as chuvas e o cerrado

renasce outra vez!

 

Mas o fogo

pra formar raçados e pastos,

é criminoso e maldoso

que apagam s vestígios 

das máquinas de tração!

 

O  bicho homemdesmata 

a flora e caçam os animais

e transformam o cerrado em megas plantações...

 

O homem

descobriu o Cerrado e
sua riqueza liquida inodor!

 

Tanta  água e terras fartas
destroem a bio-diversidade

ribeirões... veredas,

alagados e rios...

Tudo se transforma

em megas plantações...


Foi-se o tempo, 

das tropas e boiadas
dos paus-de-arara

e da inocência felina
correndo  livre 

as campinas floridas!

 

Cerrado... cerrado!

Não são os mesmos olhos 

que hão de ver-te amanhã.

 

A mão do homem transformou o cenário.


Não se verá mais os pequizeiros
Araçás, araticuns,

babaçus, buritis
Muricis, puçás,

pitombas... 

Mama-cadelas, cagaita,

cajus e juazeiros...


Ficará na lembranças

os pequiseiros,

palmeiras e mangabeiras
exterminados pela força

da agro... o grão!

 

E o  caboclo mateiro sabe
que não terá mais espaço

prá o coração.

Expulsos

hão de deixar atrás

tantas histórias

tantos sonhos...

tudo findará em lembranças...

A dor de saber

que nada mais

sera como antes fora.


Cerrado... cerrado!
Veredas virgens

veredas tristes
Plantações...

           plantações...

                   plantações!


E o cerrado estático

em fotos mulduradas...

No canto da sala

 vidas empalhadas

como peças de museu!

 

Felizes os olhos

Que ontem ti viram

Pois no coração

trás  lembranças

que nunca morre

em nosso coração.


                           pitomba!

Flamarion Costa
Enviado por Flamarion Costa em 24/07/2021
Reeditado em 14/07/2022
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